Uma das coisas essenciais que você aprende como executivo é a chamada “base zero” para elaborar orçamentos. Na inércia, nas empresas, cada departamento vai simplesmente
acrescentando no planejamento de seus gastos 5% ou 10%, a cada ano.
A base zero evita isso. Você mergulha em cada investimento e verifica
se ele ainda faz sentido. Às vezes, em vez de mantê-lo ou aumentá-lo,
você percebe que o melhor mesmo é eliminá-lo.
A quem interessar: foi uma das coisas que aprendi em meus anos de
editor da Exame e, depois, de diretor superintendente de uma unidade de
negócios da Abril.
Minha introdução se destina a falar da regulação da mídia – um assunto que vai provocar fortes emoções nos próximos meses. Um passo vital – e este independe de qualquer outra coisa que não
seja a vontade do governo – é fazer um orçamento a partir da base zero
nos gastos com publicidade do governo federal.
Por exemplo: faz sentido colocar 600 milhões de reais por ano na
Globo? Citei a Globo porque, de longe, é ela quem mais recebe dinheiro
federal na forma de anúncios. Do ponto de vista técnico, o carro-chefe da Globo é a televisão
aberta – uma mídia que vai se tornando mais e mais obsoleta à medida que
avança a Era Digital.
Veja as audiências da Globo. Nos últimos meses, ou até anos, é comum
você ver que foi batido o recorde de pior Ibope de virtualmente toda a
grade da Globo.
Faustão, Fantástico? Em breve, estarão com um dígito de audiência, pelo trote atual.
Não vou entrar aqui na questão da qualidade. Se um gênio assumisse o
Jornal Nacional, o conteúdo melhoraria, mas a audiência não: é a Era
Digital em ação.
Pois bem. Tudo aquilo considerado, 600 milhões por ano fazem sentido tecnicamente?
É claro que não. Quanto faz sentido: metade? Um terço? Não sei: é aí que entra o estudo com base zero.
É curioso notar que um efeito colateral desse dinheiro colossal que
entra todos os anos na Globo – seu Anualão – é o pelotão de jornalistas
como Jabor, Merval, Sardenberg, Waack, Noblat e tantos outros dedicados à
manutenção dos privilégios de seus patrões e, claro, deles próprios.
Não é exagero dizer que eles são financiados pelo dinheiro do contribuinte.
Digamos que para 2015 fosse mantida metade do Anualão da Globo.
Haveria, aí, 300 milhões de reais ou para ajudar a equilibrar as contas
públicas ou, no melhor cenário, para ampliar programas sociais. Cito a Globo apenas pelo tamanho de seu caso.
Alguns meses atrás, a sociedade subitamente se perguntou se era certo
o governo federal colocar 150 milhões por ano no SBT, em publicidade,
para que, no final, aparecesse em seu principal telejornal com enorme
destaque uma comentarista que apoiava justiceiros, Raquel Sheherazade.
Esqueçamos, no caso do SBT, Sheherazade e tantos outros comentaristas
de emissoras afiliadas iguais a ela, como Paulo Martins, do SBT de
Curitiba. “O PT é um tumor maligno”, escreveu ele em sua conta no Twitter perto
das eleições. “Essa eleição é o ponto limite para o Brasil desse mal
com tratamento convencional. Depois dessa, é muita dor ou morte.”
Em português: ele estava pregando um golpe na democracia em caso de
fracasso no “tratamento convencional” – a vontade da maioria expressa
nas urnas.
Também os jornais, rádios e TVs – aliás este últimos uma concessão pública – são bancados pelo dinheiro público. A sociedade aprovaria esse emprego de dinheiro? É irônico, mas o que a mídia tem que enfrentar é um choque de
capitalismo: andar pelas próprias pernas, sem o Estado-babá. (Até hoje
vigora uma reserva de mercado na imprensa, por absurdo que pareça em
pleno 2014.)
Os bilhões que ano após ano o sucessivos governos – na Era FHC as
somas eram ainda maiores – colocam nas grandes corporações de mídia têm
ainda uma consequência pouco discutida.
Dependentes do governo – nenhuma sobreviveria se as verbas fossem
extirpadas –, elas entram em pânico a cada eleição presidencial. E fazem
o que todos sabemos que fazem, pela manutenção de seus privilégios.
Aécio, agora, era a garantia de vida boa para todas elas. O modus
operandi de Aécio é conhecido: como governador de Minas, ele triplicou
os gastos com publicidade.
Ele não teve o pudor de deixar de colocar dinheiro público nem nas rádios de sua própria família.
Na Minas de Aécio, a imprensa amiga foi bem recompensada com anúncios´, incluída a Globo local.
E aqui um acréscimo importante: fora o dinheiro federal, as grandes
corporações de mídia são abençoadas também com anúncios de governos
estaduais e municipais.
Em São Paulo, os governos do PSDB têm contribuído na medida de suas possibilidades com empresas como Abril, Estado e Folha. E não só com publicidade. Todo ano, o governo paulista renova um
grande lote de assinaturas da Veja para distribuir as revistas em
escolas públicas.
Felizmente para a cabeça dos jovens, as revistas sequer são tiradas do plástico que as embala.
Que jovem lê revista, hoje? Mesmo assim, as assinaturas são sempre renovadas.
Mas um passo por vez. Fazer um orçamento de marketing com base zero nos gastos com
publicidade seria uma das atividades mais nobres nestes meses finais de
2014 para a equipe do governo.
É um espaço para avaliar e debater, sem pré-julgamentos e preconceitos, informações, valores e ideias disseminados pela indústria cultural que tendem e podem formar a opinião pública dentro de um pensamento único e sem compromisso com uma consciência crítica.
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Dilma e o PT terão que mudar

Neste domingo votei em Dilma com duas convicções: 1) a
presidente termina seu primeiro mandato com resultados que ficam aquém
daquilo que as potencialidades da conjuntura proporcionavam; 2) Dilma e o
PT terão que mudar de rumos se quiserem manter a perspectiva de futuro.
O resultado das eleições foi uma exceção. A conjuntura era de mudança e
a lógica seria a de que a oposição tivesse triunfado. Só não triunfou
porque Aécio Neves, embalado pela agressividade, pelo falso moralismo,
pela disseminação de preconceitos e pela ausência de um programa
consistente, não conseguiu gerar confiança na maioria do eleitorado.
Dilma cometeu inúmeros erros na condução da política
econômica. Repetiu fórmulas que deram certo no governo Lula, mas que não
faziam mais sentido com as mudanças de conjuntura. Atrasou o plano de
infra-estrutura por equívocos e preconceitos iniciais. Adotou uma
política monetária e cambial confusa que não conseguiu redirecionar
recursos para investimentos produtivos e nem conseguiu manter a inflação
baixa. Na política fiscal voltaram as velhas maquiagens, perniciosas à
credibilidade do país. No plano externo foi inapetente e manteve o
Brasil recuado em suas próprias fronteiras. Não foi agressiva na
política comercial – uma exigência dos tempos. O resultado foi a
desconfiança dos investidores, o baixo crescimento e a redução de ritmo
na criação de empregos e na elevação da renda.
No plano político, os passivos são maiores. Colocou
gente que não entende de política para cuidar da articulação política;
deixou Gilberto Carvalho esquecido no Planalto, retirando-lhes as
funções de articular os movimentos sociais; o Conselhão do governo Lula
foi abandonado; o diálogo com os partidos e com a sociedade foi pífio; o
Ministério, ou por medo da chefe ou por incompetência, foi uma negação.
Em resumo: foi um governo burocrático e arrogante, que não exerceu a
atividade política de forma criativa, agregadora de energias e de
propósitos orientados por um projeto claro de futuro para o país. Por
não definir com clareza os fins do seu governo, perdeu-se nos meios.
Dilma escolheu o caminho da solidão e exilou-se dentro de si mesma.
Dilma, antes de tudo, terá que mudar de estilo e de
conduta como presidente. Terá que governar exercitando o diálogo
democrático, pois sem ele a própria democracia não se desenvolve. Terá
que destravar politicamente o governo, seja na relação com a sociedade,
seja na relação com os partidos e o Congresso. Terá que trocar a equipe
econômica, que carece de credibilidade. Terá que escolher um ministério
mais qualificado, com ministros capazes de afirmar sua personalidade
política e sua capacidade de gestão. Terá que fazer uma limpeza moral
nas estatais, principalmente na Petrobras, para recuperar a
credibilidade e a eficiência das mesmas.
Dilma começará o segundo mandato imersa em um
paradoxo. Por um lado, terá que recuperar a credibilidade do governo num
ano de ajustes duros e com movimentos sociais mais propensos a levarem
suas lutas para as ruas. A fragmentação do Congresso também será um
enorme desafio. Por outro, é preciso reconhecer que a vitória nas urnas
representa uma espécie de resgate da própria presidente. Venceu contra
uma conjuntura adversa, contra um adversário que usou as armas do
ludibrio e do engano, contra uma parcela conservadora da sociedade que
disseminou o ódio e todo o tipo de preconceito, contra a volúpia
especulativa do mercado financeiro e contra um bombardeio intermitente e
impiedoso de setores da mídia. Dilma deveria saber aproveitar a
potência desse auto-resgate para fazer ajustes profundos em seu governo,
com o objetivo de produzir resultados profícuos, passadas as
dificuldades iniciais do seu segundo mandato. Será a coragem de mudar e o
alcance das mudanças que dimensionarão o lugar que Dilma terá na
história.
O PT Deve Mudar
A campanha eleitoral de 2014 foi marcada por um forte
antipetismo em setores expressivos do eleitorado. De acordo com as
pesquisas, o PT perdeu a adesão nas classes médias, e da maior parte dos
mais jovens e dos mais escolarizados. Mesmo entre aqueles que têm o
ensino médio, 49% têm uma imagem negativa do partido. Ao perder a adesão
dos jovens, o partido perde a perspectiva de futuro.
As razões do antipetismo são de duas ordens. A
primeira diz respeito ao ressentimento de setores da classe média que
perderam status social pela ascensão das camadas sociais excluídas. É
nítido o incômodo da classe média tradicional com a presença da chamada
classe C em aeroportos, nos shoppings, nas universidades, nos cinemas e
até com o aumento do número de pessoas proprietárias de carros. O
ressentimento social fomenta o ódio que esses setores, que se sentem
ameaçados, destilam contra o PT por identificar o partido como promotor
da ascensão dos debaixo. A violência verbal e, às vezes física, e até
mesmo atitudes neofascistas são alimentadas e radicalizadas pelos
representantes midiáticos do conservadorismo. O ressentimento
preconceituoso se expressa num coquetel explosivo: antipetismo,
homofobia, preconceito contra pobres, negros, nordestinos e mulheres.
A outra face do antipetismo é estimulada pela a
corrupção de membros do partido e pela arrogância de petistas. O próprio
presidente Lula reconheceu, durante a campanha, que o partido se
corrompeu, que se transformou “numa máquina de fazer dinheiro”. Os
filósofos políticos clássicos sempre advertiram que a corrupção é o
principal mal das repúblicas. Na história das esquerdas democráticas
ocidentais, particularmente na América Latina, a corrupção foi a causa
da erosão de muitos partidos e governos. O fato é que o PT vem sendo
identificado como um partido corrupto nos mais variados setores sociais.
Mesmo na classe C, a mais beneficiada pelos governos petistas, a imagem
do partido só é positiva para 36%. O PT encontrou uma forma estranha
para lidar com a corrupção em suas fileiras e em seus governos: se
defende e se justifica atacando a corrupção dos outros partidos. Se o
partido quiser renovar-se e sair da vala comum da maioria dos partidos
terá que lidar de forma intransigente com o problema da corrupção,
promovendo uma limpeza interna e propondo mecanismos institucionais
capazes de reduzir a corrupção estrutural que graça no Brasil.
A arrogância e a falta de humildade dos petistas
também são combustíveis que alimentam o antipetismo. Invoque-se aqui,
novamente, a autoridade do presidente Lula que asseverou que o partido
se tornou “um partido de gabinetes”. Na medida em que o PT foi se
consolidando como partido do poder, escavadeiras potentes escavaram
fossos profundos entre os dirigentes e políticos petistas e o povo. Até
mesmo a militância do partido foi sendo afastada de uma relação mais
direta com seus líderes, com exceção dos momentos de campanha, é claro.
Registre-se que há notórias e honrosas exceções nessas condutas.
Mas não resta a menor dúvida que muitos políticos
petistas foram assumindo a ideologia e a conduta do “novo rico” a partir
das vitórias eleitorais e do desfrute das comodidades do poder. O
partido fechou-se para o diálogo e para as críticas. Fechou muitas
portas à participação da militância e dos movimentos sociais. Eleitores e
integrantes do partido que ousam criticá-lo são estigmatizados como
inimigos – agentes do PIG. Invariavelmente, o debate aberto e crítico,
de idéias e propostas, é substituído pelas adjetivações
desqualificadoras. Uma pessoa que queira realmente contribuir com a
construção de uma sociedade mais justa, igualitária e solidária não pode
apresentar-se como um similar de sinal trocado do radicalismo de
direita. Essa arrogância petrificante fez com que setores mais
politizados buscassem opções de voto no PSol, por exemplo. O
esmorecimento das virtudes políticas e morais no PT paralisou até mesmo
sua capacidade de inovar nas políticas públicas. Se o PT quiser
recuperar a perspectiva de futuro terá que fazer uma profunda reforma
política e moral interna.
Aldo Fornazieri – Cientista Político e Professor da Escola de Sociologia e Política.
domingo, 26 de outubro de 2014
Voto nulo e o “protesto” da melancolia

Tão alienada quanto certas manifestações de intolerância que marcaram disputa eleitoral é a atitude passiva de quem espera pelo “candidato ideal”
Por Christiana Paiva de Oliveira
“A diferença consiste em que a inibição do
melancólico nos parece enigmática porque não podemos ver o que é que o
está absorvendo tão completamente. (…) O paciente representa seu ego
para nós como sendo desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e
moralmente desprezível (…). Ele se encontra, de fato, tão
desinteressado e tão incapaz de amor e realização quanto afirma. (…)
Pelo contrário, tornam-se as pessoas mais maçantes, dando sempre a
impressão de que se sentem desconsideradas e de que foram tratadas com
grande injustiça”.
(Sigmund Freud, 1917 [1915]. p. 278-281).
Estamos vivendo em meio as reviravoltas das eleições. Dia 26 de outubro, 2014, será seu ápice, com a resposta que nos angustia até então: um dos candidatos à presidência será eleito, por fim. Nesse contexto, pergunta-se: e nós, por onde andamos?
Não raro, encontramos eleitores com discursos calorosos, que insistem em nos convencer sobre o candidato ideal. Ai de quem ousar se aproximar dessa fala sem ceder aos caprichos de quem os profere. Qualquer opinião que se oponha é rechaçada duramente, bem como o espaço para a reflexão, que fica aniquilado. Nos lembram crianças, que ao serem contrariadas, fazem birra: gritam, insistem, e as vezes até partem para a violência. Vemos, por entre notícias¹ e vivências próprias, que o lado mais inóspito existente em nós tem aflorado durante os embates políticos, disseminando o ódio contra uma suposta minoria difusa e descabida. É como se as certezas infantis, com ares onipotentes, fossem incontestáveis.
Por outro lado, visitamos eleitores desencontrados, proclamando a anulação dos votos diante dessa disputa acirrada. Desesperançosos e insatisfeitos, tais eleitores se mostram pessimistas, na insistência de ressaltar apenas o lado negativo que os cerca. Nessas eleições, já experienciamos reviravoltas políticas, discursos de ódio explícitos e informações deturpadas. Seria possível manter uma neutralidade frente a esses fatos? Sendo assim, o que buscam os eleitores, ao insistirem na anulação dos votos?
O discurso dos que defendem tal atitude tem ressoado cada vez mais com caráter melancólico: é letárgico, esvaziado, pincelado por tons acinzentados. Tais sujeitos não veem futuro viável, se afundam em suas lamentações, profundas, com caráter inquestionável. De acordo com Freud, pai da psicanálise, o melancólico se baseia em suas idealizações para tomar uma atitude. No entanto, tem algo que assombra e rege o melancólico, que é a perda.
Estamos falando de um sujeito que faz questão de articular sua incapacidade de conquista ao seu vazio. A ele, faltam dinheiro, perspectivas e habilidades que o instiguem ao sucesso. E há algo aqui que devemos nos atentar, ligado às identificações. Quanto mais a perda se sobressai, mais o melancólico se identifica com ela e se autoflagela. Ele passa a se acusar constantemente, na medida em que se afasta do seu plano ideal – e como a palavra nos revela, impossível de ser alcançado. Estamos, portanto, diante de um crítico em potencial e pessimista.
Há em sua atitude, referente a anulação do voto, um protesto silencioso e acomodado. Aqui, cabe lembrar que por mais árdua que seja a situação do melancólico, mudar requer uma nova busca, ligada a novos investimentos. Concomitantemente, investir toda essa energia requer um grande trabalho, algo que o melancólico abomina. Desse modo, não fiquemos estagnados por essa inércia lamuriante. Rememoremos, pois, nossas conquistas históricas, desprezadas pelos ares da melancolia – e valorizar as vitórias não é aludir ao conformismo, que também nos poda às novas criações.
As “Diretas Já” tem seu mérito para a democracia – que apesar de muitas vezes ser deturpada por configurações políticas adulteradas – marca uma vitória libertadora, pós ditadura militar. É com essa nova perspectiva que o cidadão brasileiro retoma a voz, mesmo que por entre breves sussurros, sobre o segmento político, social e histórico de seu país. Foi através de debates, ações e lutas contra a violência, abuso de poder e respectivas censuras que a mudança foi concretizada. Com isso, temos que cuidar para que o peso da crítica não esmague tais segmentos. Sob o olhar do melancólico tudo fica apequenado, assim como suas vivências, que são massacradas pela sua insatisfação constante.
Onde estaria o ato de protesto dos que defendem o voto nulo, já que este, ao passar de 50% na contagem final, não anula a eleição? Tampouco força o surgimento de uma nova arcada de políticos, ao contrário do que muitos acreditam. É possível compreender que os candidatos à nossa disposição não preenchem por completo nossas expectativas, mas quem, ou o que, estaria qualificado para tamanha idealização? Valorizemos os protestos atuais, os engajados, os torturados e tantos outros que lutaram por nós 30 anos atrás – e que essa fala ecoe para além da nostalgia, para que possamos nos inspirar e prosseguir sempre com novos questionamentos e ações.
Ao optar por um determinado candidato, o melancólico tem que arcar com o peso da sua escolha e com o árduo fardo da responsabilidade que sucede tal atitude. Além disso, a impossibilidade de dedicar seu voto a alguém estaria ligada à irrealizável tarefa de enxergar um ideal nessas eleições, em que ninguém serve como salvador ideal de nossas condições. O melancólico critica e não parte para a ação, espera que o tempo passe e que a situação se modifique, enquanto ele permanece estagnado na lamentação.
Lembremos, por fim, que o voto nulo é, também, uma escolha. O percurso desse texto não alude à generalização, uma vez que tal opção implica num caráter subjetivo. A todo momento, as referências feitas foram ao discurso derrotista e esvaziado, que mina qualquer possibilidade futura. Ou seja, a crítica recai ao posicionamento que não ultrapassa a lamúria, mantendo-se na superficialidade da questão. Se não há candidatos que representem o eleitor, ou se não há propostas viáveis, o voto nulo pode indicar essa abstenção, mas com que peso? É válido destacar que se o cenário político encontra-se assim, cabe pensar – para além das anulações – sobre como os ditos representantes do povo inserem um retrato do nosso atual cenário brasileiro. Cabe a nós, então, criticar e reivindicar, sem contentar-se com a derrota incitada pelo melancólico.
Não pretendo participar da confecção do DSM VI, manual psiquiátrico, mas sim, acirrar discussões e novas reflexões sobre nossas aspirações melancólicas, que nos tomam cotidianamente e nos cegam com nossos próprios ideais.
¹Apoiadores de Aécio agridem blogueiro cadeirante eleitor de Dilma < http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/10/apoiadores-de-aecio-agridem-blogueiro-cadeirante-eleitor-de-dilma.html
Referências Bibliográficas:
Freud, Sigmund (1969). Luto e melancolia. (1917 [1915]). In: Edição Standart Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Editora Imago; vol. XIV.
Pragmatismo Político. Apoiadores de Aécio agridem blogueiro cadeirante eleitor de Dilma. Disponível em: < http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/10/apoiadores-de-aecio-agridem-blogueiro-cadeirante-eleitor-de-dilma.html > Acesso em: 19 Out. 2014

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