domingo, 14 de maio de 2017

metamorfose ambulante

O ser humano é uma metamorfose ambulante








Chega um tempo na vida em que sentimos a necessidade de mudar, seja de casa ou de nós mesmos…

Largar coisas muito enraizadas e profundas, mas que já não servem mais.
Então surge a ideia de olhar casas novas, em todos os sentidos!
Quem sabe algumas que possuam ruas estreitas que precisamos percorrer?
Ou outras que fiquem em ladeiras bem íngremes, para desenvolver a nossa força.
Ou quem sabe simplificar, resgatar o velho e criar um novo lugar!
Ou talvez procurar uma nova casa, que tenha muita água por perto, para amolecer a nossa argila, que são as nossas crenças…
Muitas vezes não é necessário trocar de casa, mas olhar com outros olhos para dentro dela.

Quem sabe, olhando melhor, possamos visualizar um rio com águas transparentes, que tem a 


capacidade de levar embora as preocupações que não precisamos mais!

Ou ainda águas que reflitam o nosso interior!
E se ainda pudermos ir para perto do mar, que maravilha!
Quantos ensinamentos ele tem para nos dar, basta se aquietar e observar!
Lugares que tenham água por perto, ajudam a amolecer a terra seca, que são iguais a nossa dureza, rigidez e incompreensão.
Olhar através de arcos, resulta em enxergar aquilo que realmente precisamos ver!
Começar a entender que a casa é a nossa morada, somos responsáveis por ela.
Podemos dar cor ou não…mas o colorido exige mais cuidado!
Observar se não estamos construindo muros muito fechados em volta da nossa casa.
Muros separam, pontes ligam, aproximam…
Através das pontes podemos ver o outro lado.Conhecer o outro lado muda a nossa percepção… Nos transforma…
Começamos a ter uma nova visão!
E com a nova visão, fica mais fácil pensar na nova construção ou reforma!
Precisamos nos aproximar mais das pessoas? Por acaso nos isolamos demais?
Ou precisamos nos aquietar mais… Quem sabe um lugar mais alegre?
Ou precisamos caminhar silenciosamente por ruas desconhecidas…
Olhar para nossa casa requer coragem e força…é enxergar o que precisa ser mudado e se desapegar do velho! É olhar fundo…
E quando o desapego acontece, ele nos leva à situações caóticas, mas valiosas!
Neste momento surge uma confusão de cores e caminhos!
É a reforma… Muitas vezes surge o frio e o escuro…
Mas como tudo passa, sempre vem o novo dia para clarear! Toda reforma ou mudança traz caos?. Mas precisamos lembrar que vale à pena, o resultado chega!
Se a angústia bate à porta é hora de abrir e atender!
Ela vem avisar que alguma coisa precisa mudar!
Quem sabe uma pausa para refletir sobre tudo isso!
Olhar para o rio e perceber que ele corre sozinho…tem seu tempo… Faz seu curso e segue livre…
A cada lugar que o rio passa, ele vê novas paisagens… e nós, queremos nos fixar! Permanecer!
É hora de recomeçar, mudar de casa ou reformar! Assumir responsabilidades, ser dono dela! Com certeza não é fácil, mas vale à pena….

Fonte: Fãs da Psicanálise


terça-feira, 2 de maio de 2017

Direitos humanos é para defender bandidos?

Direitos Humanos não existem para defender Bandido, existem para impedir que o Estado se torne o Bandido

Fonte: Pensar Contemporâneo

Há uma certa incompreensão sobre o que são Direitos Humanos, sobretudo na atualidade, momento em que o diálogo é trocado por ”fuzis verbais”. Fala-se sobre tudo, mas nada se sabe. É o paradoxo moderno. Há quem diga que a expressão ”Direitos Humanos” carrega um problema nominal, visto que, para fins elucidativos, e agregando ao nome o sentido que se lhe apresenta, a expressão mais adequada seria ”direitos dos manos”. Mas aí é que está o problema.

Se você pensa dessa maneira, sinto em dizer, mas você está completamente equivocado. A própria percepção de Direito surge como uma forma de limitar o poder do Estado, vide Carta Magna(12015) . Mas desde as tragédias gregas já temos algumas ponderações acerca disso, como, por exemplo, na peça ”Antígona” do tragediógrafo Sófocles. O Estado Aparece na figura do Rei Creonte que designa que Polinices, por ter se insubordinado contra o governo, não tenha mais o direito de ser sepultado.

Antígona se insurge contra essa determinação de Creonte e decide realizar os ritos funerários, enterrando, assim, o seu irmão, logrando-se da existência de uma lei que sobrepõe a lei do Estado, a lei divina. Percebemos então que a lei divina (Thémis) foi invocada como uma forma axiológica-externa de julgamento, com o intuito de limitar o poder vertical do Estado. É preciso que se entenda isso, para que mesmo que, de forma prosaica, possamos afirmar que Antígona se utilizou de algo ”fora do Estado” para impedi-lo de agir arbitrariamente e cometer uma injustiça.

Se você entendeu até aqui, bom, já podemos dizer que um dos pilares para o real entendimento do que são Direitos Humanos já está construído. Outra questão que se faz importante entender é que dentro do próprio conceito de Direitos Humanos, está embutido questão da generalidade. Essa talvez seja uma das características mais importantes. Não é direito dos Brancos, dos Negros, dos Índios; são Direitos Humanos!

O Filósofo Francis Wolf afirma que os povos primitivos separavam as pessoas entre ”Civilizados” e ” Bárbaros ” e quase sempre os civilizados eram aqueles que pertenciam ao mesmo povo, Os estrangeiros eram sempre vistos como bárbaros e, portanto, não tão humanos. As próprias religiões monoteístas surgem alegando ”povos escolhidos”, corroborando com essa perspectiva.

No desenvolvimento histórico dos Direitos Humanos, o Cristianismo, principalmente na figura de Paulo, aparece como uma forma de quebrar com essa compreensão de mundo. Deus – como conceito – passa a ser deus de todos, independente da cor, gênero, ou povo e, assim, nasce a concepção de que todos têm direitos. Poucas pessoas sabem que Hitler, por exemplo, subiu com a Constituição debaixo do braço. O nazismo foi ancorado e embasado pela lei. Aliás, foi uma das alegações de Eichmann: ”Eu estava apenas cumprindo ordens”. Isso aconteceu porque não havia nem um fator axiológico externo para medir se o que estava sendo feito era ou não errado, justo ou injusto.

O Direito era apenas a ”vontade do povo”, de seus legisladores, convertendo-se em uma tirania regida pela ópera ensurdecedora das maiorias. Logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1948, no dia 10 de dezembro foi proclamada a ”Declaração Universal dos Direitos Humanos” Para evitar que algo como o nazismo aconteça de novo, foi estabelecido, por exemplo, ”As Clausulas Pétreas”, como limitações materiais ao poder de reforma da Constituição. Estabelecendo normas que não são sujeitas ao controle simplesmente majoritário e político. Direitos intocáveis.

E também a independência do Judiciário, tendo em vista que é um poder ”não político” e tem uma função intrinsecamente impopular, visto que é o poder que visa limitar a ”Tirania das maiorias”, para usar a expressão do Ortega y Gasset . Então, dois poderes são majoritários ( Executivo e Legislativo) e portanto políticos, sujeitos à vontade do povo e o outro ”não político” (Judiciário) para limitar essa mesma vontade.

Vamos pegar um exemplo bem concreto. Imagine que um policial que, ao perseguir um bandido, decida matá-lo a sangue frio e, em um cruzamento qualquer, força-o a pegar uma arma (para depois se usar do recurso da Legítima Defesa) e atira nele logo em seguida. Bem, o policial claramente exerce o poder do Estado e nesse momento o policial e, por consequência, o Estado se transformam no Bandido. O raciocínio é simples, todos temos o direito ao devido processo legal, ampla defesa, todos nós sabemos disso.

Se o Estado não respeita isso, torna-se automaticamente o bandido, e, sendo assim, que legitimidade o Estado teria para julgar qualquer um de nós? Se nem o próprio Estado respeita as suas limitações legais? Aliás, para ser mais claro ainda: por mais que haja um querer, uma vontade ou ideal de “justiça” por trás da ação cometida, se ela desrespeita os trâmites legais estabelecidos pela Constituição, o Estado não só se transforma no bandido, haja vista o descumprimento de um procedimento legal, como toda a estrutura jurídica é colocada em xeque, pois se os institutos jurídicos não são respeitados, qual a importância e legitimidade do próprio direito?

E no caso de um golpe militar em que o Estado muda completamente a sua forma e passa a perseguir todos os nossos direitos, vide AI-5 e supressão de Habeas Corpus? O que fazer? Como diz Chico Buarque de Holanda ” Chame o Ladrão!”, se até o Estado se volta contra os meus direitos, a única pessoa a quem posso recorrer é ao “bandido”. Deu pra entender? Então, sempre que seu amigo falar que Direitos Humanos serve pra defender Bandido, responda pra ela de maneira aguerrida: ”DIREITOS HUMANOS NÃO EXISTEM PARA DEFENDER BANDIDO. EXISTEM PARA IMPEDIR QUE O ESTADO SE TORNE O BANDIDO”.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Decretação de prisão de Lula por Moro é inevitável?

Moro, Lula e a hora da verdade


O juiz Sérgio Moro, como se sabe, marcou a data do depoimento de Lula, na condição de  réu, para o dia 3 de maio. Nas últimas semanas Lula voltou a ocupar grande espaço nas mídias de todas as colorações e nas redes sociais, por duas razões: a aproximação do desfecho de sua situação nas denúncias da Lava Jato e as movimentações em torno da sua candidatura. Os dois movimentos terão uma evolução inseparável e, o segundo, embora possa ser temporalmente antecipado, dependerá inextricavelmente do destino do ex-presidente no Judiciário.
É nesse contexto que petistas e progressistas em geral parecem estar embarcando numa nova canoa da ilusão. Não resta a menor dúvida de que Sérgio Moro, pelas suas parcialidades, pelo uso político sistemático de conduções coercitivas, prisões, delações premiadas e vazamentos politicamente orientados fez parte, de forma ostensiva, do golpe que derrubou Dilma. O golpe, com vários interesses agregados, tinha o como objetivo central retomar inteiramente o controle do Estado por parte da elite nativa, aliada ao capital financeiro e transnacional. Para que este controle seja garantido, o golpe se subdividiu em duas etapas, sendo a primeira, a retirada de Dilma do governo e, a segunda, o impedimento da candidatura Lula em 2018.

A ilusão petista-progressista reside exatamente aqui: a crença de que Moro e as demais forças do Judiciário e do Ministério Público, articuladas com o projeto de afastar os segmentos populares e de esquerda do poder, não terão coragem para prender Lula ou de, alguma maneira, impedi-lo de ser candidato a presidente. Ora, essas forças não teriam pago o preço de destruir a democracia, de aprofundar a crise econômica, de achacar os direitos e o mínimo de bem estar dos trabalhadores para deixar o serviço pela metade.

O lançamento prematuro da candidatura Lula parece conter dois elementos de estratégia: 1) constranger sua condenação nos processos em que é réu; 2) defini-lo como a bala de prata do PT em 2018 e no futuro próximo, pois sem Lula o partido não será capaz de se recuperar no médio prazo. É duvidoso que esta estratégia seja a mais correta por que: a) o lançamento de sua candidatura estreita e restringe o movimento de sua defesa, e b) a sua possível candidatura deveria vir no bojo de um processo de reformulação programática e de construção de um leque amplo de forças para sustentá-la, com uma concepção voltada mais para enfrentar os desafios futuros do que olhar para o passado.

Uma estratégia mais sensata e eficaz parece ser a de criar um amplo movimento democrático e progressista de defesa de Lula, denunciando a parcialidade da Lava Jato, a ação persecutória contra o ex-presidente e a inconsistência jurídica das acusações que são lançadas contra ele. Esse movimento deveria se estruturar independentemente das opções de candidaturas para 2018. O lançamento prematuro da candidatura Lula inibe esta opção. Ademais, esse movimento deveria se articular com as lutas populares contra a reforma da Previdência e das demais reformas retrógradas, com a exigência de renúncia de Temer, com a antecipação das eleições gerais e com o combate à corrupção.

Os testes das esquerdas e a hora da verdade

A atual conjuntura é marcada pelo seguinte paradoxo: existe uma monumental desmoralização do governo Temer e profunda deslegitimação das instituições em contraste com a clara liderança de Lula nas pesquisas eleitorais e, mesmo assim, as forças populares e progressistas não são capazes de promover manifestações significativas contra o governo e contra as reformas anti-sociais. A desmoralização do governo, do PMDB e do PSDB empurra cada vez mais os movimentos que se mobilizaram pelo impeachment a buscar a construção de uma candidatura de direita e a retomar as mobilizações de rua.

A hora da verdade das esquerdas e dos progressistas chegará, mais uma vez, por razões históricas. Tome-se como referência apenas três fatos históricos Em 1964 garantia-se a Jango que ele dispunha de sustentação sindical, social e militar para resistir ao golpe. Jango foi derrubado sem que houvesse resistência significativa. Na campanha das Diretas Já, milhões de pessoas foram às ruas defendendo esta bandeira. Na hora decisiva, os liberais conservadores fizeram um acordo com parte da direita e desaguaram o movimento no Colégio Eleitoral sem que houvesse uma reação dos setores populares e progressistas para garantir as eleições diretas.

Finalmente, no processo de impeachment de Dilma falou-se em "exército do Stédile", garantiu-se que as forças da CUT "desceriam às trincheiras" para defender a democracia, proclamou-se que "golpistas, fascistas não passarão" etc. No dia 17 de abril de 2016, data efetiva do golpe, quem estava no Vale do Anhangabaú viu algumas milhares de pessoas se retirarem cabisbaixas de desmoralizadas com o acolhimento do impeachment por uma horda de deputados que gerou vergonha e perplexidade no mundo pela sua desqualificação. Não houve nenhuma reação. O próprio comando do governo e do PT errou gravemente de avaliação, pois, dois dias antes da decisão da Câmara, julgava-se que Dilma teria votos suficientes para barrar o impeachment.

As lições da história mostram que os democratas, os progressistas e as esquerdas não foram efetivos na construção de uma consolidada democracia social no Brasil. Nos momentos críticos em que isto poderia proporcionar uma virada, essas forças foram derrotadas até mesmo quanto o elemento militar não interveio no jogo político. A causa principal dessas derrotas está na incompreensão do fator força organizada para promover as mudanças. Negligenciar a organização e o acúmulo de forças políticas e sociais significa perder no jogo institucional quando o país passa por momentos críticos e os avanços conquistados podem sofrer graves retrocessos, a exemplo do que ocorre neste momento.

Se Lula for preso ou impedido de ser candidato o que acontecerá? Esta pergunta não tem uma resposta assertiva. Não basta apenas proclamar que "Lula é meu amigo: mexeu com ele, mexeu comigo". Esta proclamação só será algo efetivo se existir força organizada capaz de barrar a prisão ou a inviabilização da candidatura de Lula nas ruas.

Independentemente de se apoiar ou não uma eventual candidatura Lula em 2018 é preciso perceber que o jogo do seu destino na Justiça está imbricado com o futuro da democracia. Por isso, a tarefa agora não é definir candidaturas, mas ganhar esse jogo. Caso contrário, os trabalhadores e movimentos sociais sofrerão uma devastadora derrota histórica e a destruição do Brasil será de tal magnitude que serão necessárias décadas para se recuperar. Afinal de contas estamos diante de um governo que destrói de forma sistemática e organizada as linhas de força que poderiam imprimir alguma significação positiva ao Brasil no futuro. Estamos diante de um governo que faz da humilhação e da degradação do povo o seu método de governar.

Queira-se ou não, goste-se ou não, o fato é que a realidade impôs uma imbricação entre o destino jurídico de Lula e o destino da democracia, já que a solução desta equação dirá se o golpe sairá inteiramente vitorioso ou parcialmente derrotado. Neste momento parece que a  possibilidade da consumação completa do golpe é maior, pois, de um lado, as esquerdas críticas ao PT não conseguem compreender o que está em jogo e o PT prefere jogar com uma única bala de prata.

Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Ninguém mais quer conversar?

Sherry Turkle quer saber por que cada vez nos comunicamos mais pelo celular

Psicóloga reabre o debate sobre o uso da Internet e as conversas que não são cara a cara

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LUIS SEVILLANO
Sherry Turkle quer abrir uma discussão sobre a arte de conversar. Esta psicóloga norte-americana do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), uma das grandes estudiosas da digitalização de nossas vidas, quer saber por que cada vez mais nos comunicamos por celulares e dispositivos móveis em vez de fazê-lo pessoalmente, por que escolhemos enviar mensagens de texto e ligamos menos, e por que conversamos com um amigo enquanto estamos sentados na mesa com nossos filhos na hora do jantar.
Será que a arte de conversar está em crise? A pergunta inspirou a pesquisa que se tornou o livro Reclaiming Conversation, o último trabalho de Turkle, que há três décadas estuda como nos adaptamos aos avanços da tecnologia e sua influência em nossas relações. A autora representa hoje o setor mais moderado e realista de um contexto no qual que estamos mais acostumados a ouvir ao extremo. Turkle não acredita que a tecnologia seja o problema, mas sim como a utilizamos, e propõe que façamos um uso “deliberado” de nossos dispositivos.
A especialista fala do pai que acompanha sua filha de sete anos a uma excursão do colégio e se dá conta de que passou uma hora atualizando fotos de seu perfil de Facebook, mas não falou uma vez sequer com a menina. Do jovem que admite que olha o telefone para ver se há mensagens de seus amigos, mas que na falta de atualizações entra no TwitterInstagram ou Facebook, “lugares familiares” para ele. “Nesse momento o telefone é meu amigo”, explica. Ou da universitária que reconhece que, ao saber que o familiar de uma amiga faleceu, lhe envia um e-mail, mas não telefona para ela “para não atrapalhar”.
Os adultos norte-americanos consultam seu telefone em média a cada seis minutos e meio
Os adultos norte-americanos consultam em média seu telefone a cada seis minutos e meio. “Por que passamos tanto tempo enviando mensagens e mesmo assim nos sentimos tão desconectados dos demais?”, pergunta Turkle. A resposta, segundo ela, está tanto na falta de conversas cara a cara como na quantidade de vezes que as abandonamos para olhar o telefone. “Nós nos esquecemos de que há uma nova geração que cresceu sem saber o que é uma conversa sem interrupções”, garante.
Em seu livro anterior, Alone Together, Turkle fez seu primeiro diagnóstico do efeito da comunicação digital nas relações pessoais. As entrevistas que fez na época revelavam um mundo no qual os jovens estão frustrados pela falta de controle sobre as conversas que mantêm. Não sabem se seus interlocutores vão escutá-los ou para onde a conversa pode ir. Sentem-se incapazes de antecipar sua resposta. Em Reclaiming Conversation, Turkle defende que a sociedade deve aproveitar esse sentimento de engano para voltar à palavra falada, que define como uma “cura” diante da digitalização das interações sociais.
“A tecnologia está aqui para ficar, com todas as maravilhas que traz, mas é o momento de considerar como ela afeta outras coisas que apreciamos”, diz. Um dos riscos, segundo Turkle, é que podemos perder uma qualidade essencial nas relações humanas: a empatia. “Toda vez que você consulta seu telefone na presença de outras pessoas, estimula seus neurônios, mas também perde o que seu amigo, professor, cônjuge ou familiar acaba de dizer.”
A especialista garante que a conversa, o lugar no qual ouvimos e conhecemos o outro, é o espaço que representa mais riscos. “Nós nos escondemos uns dos outros porque é mais fácil compor e editar uma mensagem” digital do que “a conversa espontânea na qual podemos estar presentes e ser vulneráveis”. Alguns de seus entrevistados reconhecem que preferem “enviar uma mensagem” em vez de ter uma conversa “incômoda” com outra pessoa “na qual não podem controlar o que vão dizer”.
Diante da visão cética de Turkle, o debate sobre as benesses, supostas ou não, do mundo online inspirou grandes defesas por parte de outros dois especialistas norte-americanos. O professor nova-iorquino Jeff Jarvisdescreve a Rede como uma “grande oportunidade para aumentar a transparência”. Jarvis criou seu primeiro blog no mesmo dia que caíram as Torres Gêmeas nos atentados de 11 de Setembro de 2001. Desde então, defende que a comunicação via web não leva à solidão, mas que está alimentando uma cultura de compartilhamento sem precedentes e de “fabricar relações”. E estas relações são, segundo seu colega Clay Shirky, o verdadeiro potencial da Internet. Suas ideias, desenvolvidas em obras como Cognitive Surplus ou Lá Vem Todo Mundo, revelam que essas ferramentas permitem liberar nossas ansiedades humanas ancestrais de compartilhar, de nos relacionar, de cooperar, de sermos criativos.
Turkle abrange em sua pesquisa todo tipo de conversas, conosco mesmos, com nossa família e amigos, com nosso parceiro, nossos professores ou nossos companheiros de trabalho e com o resto da sociedade. Turkle alerta que “a tecnologia está nos silenciando” e que os telefones, computadores e tablets nos ajudaram a nos afastar do contato pessoal. “Até um telefone em silêncio inibe a conversa.” A interação digital atrai porque é a promessa de cumprir três de nossos desejos: “Que sempre vamos ser ouvidos, que podemos prestar atenção onde e quando quisermos, e que nunca teremos de ficar sós.”
Prefiro enviar uma mensagem de texto”
A autora reconhece que grande parte da dependência dos dispositivos móveis se deve ao fenômeno conhecido como ‘FOMO’ –Fear of missing out– o medo de perder o que acontece enquanto estamos desconectados. Mas alerta que, levado ao extremo, condena os usuários a fazer constantemente várias coisas ao mesmo tempo: consultar o telefone durante o jantar com a família, responder e-mails durante uma reunião, apagar mensagens no semáforo. “Quando pensamos que somos multitarefa, na verdade nosso cérebro se move rapidamente de uma tarefa para outra e nossa efetividade decai com cada coisa que acrescentamos”, escreve.
A professora do MIT aponta as relações com as crianças como o maior perigo da tecnologia e relembra quase com nostalgia quando dizia à filha “use suas próprias palavras” em uma conversa ou “olhe para mim enquanto falo”. “Os menores aprendem que, façam o que fizerem, não conseguem atrair a atenção dos adultos que estão conectados. Vemos crianças que não conversam, mas também pais que não as olham nos olhos”, escreve Turkle. Nos menores está também a primeira promessa de esperança. “A maneira mais realista de romper este círculo é que os pais assumam sua responsabilidade como mentores (...) Não temos que pedir aos filhos que larguem o telefone, temos que dar o exemplo.”
Todos podemos estimular essa volta à conversa, diz Turkle, dando pequenos passos, como fazer as coisas mais devagar, criar lugares “sagrados” – em casa, na escola ou no escritório – onde não entrem os dispositivos móveis, ou convocar reuniões só para conversar. “Em vez de responder e-mails enquanto empurra o carrinho de sua filha, fale com ela; em vez de colocar um tablet no berço de seu bebê, leia um livro para ele.”
Fonte: Jornal El País

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017




SOBRE ESTAR SOZINHO

Flávio Gikovate



Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei.
Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma ideia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal. A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.

O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado.Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. 


A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.

Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não à partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação,há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.
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