quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Investimento público ( do contribuinte ) e a mídia

Uma das coisas essenciais que você aprende como executivo é a chamada “base zero” para elaborar orçamentos. Na inércia, nas empresas, cada departamento vai simplesmente acrescentando no planejamento de seus gastos  5% ou 10%, a cada ano.

A base zero evita isso. Você mergulha em cada investimento e verifica se ele ainda faz sentido. Às vezes, em vez de mantê-lo ou aumentá-lo, você percebe que o melhor mesmo é eliminá-lo.
A quem interessar: foi uma das coisas que aprendi em meus anos de editor da Exame e, depois, de diretor superintendente de uma unidade de negócios da Abril.

Minha introdução se destina a falar da regulação da mídia – um assunto que vai provocar fortes emoções nos próximos meses. Um passo vital – e este independe de qualquer outra coisa que não seja a vontade do governo – é fazer um orçamento a partir da base zero nos gastos com publicidade do governo federal.

Por exemplo: faz sentido colocar 600  milhões de reais por ano na Globo? Citei a Globo porque, de longe, é ela quem mais recebe dinheiro federal na forma de anúncios. Do ponto de vista técnico, o carro-chefe da Globo é a televisão aberta – uma mídia que vai se tornando mais e mais obsoleta à medida que avança a Era Digital.

Veja as audiências da Globo. Nos últimos meses, ou até anos, é comum você ver que foi batido o recorde de pior Ibope de virtualmente toda a grade da Globo.
ADVERTISJornal Nacional? Antes, 60% ou coisa parecida. Agora, um esforço para ficar na casa dos Novelas? Para quem chegou a ter 100% em capítulos finais, é uma tragédia regredir, hoje, a 30%, e isto na novela principal, a das 9.
Faustão, Fantástico? Em breve, estarão com um dígito de audiência, pelo trote atual.
Não vou entrar aqui na questão da qualidade. Se um gênio assumisse o Jornal Nacional, o conteúdo melhoraria, mas a audiência não: é a Era Digital em ação.

Pois bem. Tudo aquilo considerado, 600 milhões por ano fazem sentido tecnicamente?
É claro que não. Quanto faz sentido: metade? Um terço? Não sei: é aí que entra o estudo com base zero.

É curioso notar que um efeito colateral desse dinheiro colossal que entra todos os anos na Globo – seu Anualão – é o pelotão de jornalistas como Jabor, Merval, Sardenberg, Waack, Noblat e tantos outros dedicados à manutenção dos privilégios de seus patrões e, claro, deles próprios.
Não  é exagero dizer que eles são financiados pelo dinheiro do contribuinte.

Digamos que para 2015 fosse mantida metade do Anualão da Globo. Haveria, aí, 300 milhões de reais ou para ajudar a equilibrar as contas públicas ou, no melhor cenário, para ampliar programas sociais. Cito a Globo apenas pelo tamanho de seu caso.

Alguns meses atrás, a sociedade subitamente se perguntou se era certo o governo federal colocar 150 milhões por ano no SBT, em publicidade, para que, no final, aparecesse em seu principal telejornal com enorme destaque uma comentarista que apoiava justiceiros, Raquel Sheherazade.
Esqueçamos, no caso do SBT, Sheherazade e tantos outros comentaristas de emissoras afiliadas iguais a ela, como Paulo Martins, do SBT de Curitiba. “O PT é um tumor maligno”, escreveu ele em sua conta no Twitter perto das eleições. “Essa eleição é o ponto limite para o Brasil desse mal com tratamento convencional. Depois dessa, é muita dor ou morte.”

Em português: ele estava pregando um golpe na democracia em caso de fracasso no “tratamento convencional” – a vontade da maioria expressa nas urnas.
Também os jornais, rádios e TVs – aliás este últimos uma concessão pública – são bancados pelo dinheiro público. A sociedade aprovaria esse emprego de dinheiro? É irônico, mas o que a mídia tem que enfrentar é um choque de capitalismo: andar pelas próprias pernas, sem o Estado-babá. (Até hoje vigora uma reserva de mercado na imprensa, por absurdo que pareça em pleno 2014.)

Os bilhões que ano após ano o sucessivos governos – na Era FHC as somas eram ainda maiores – colocam nas grandes corporações de mídia têm ainda uma consequência pouco discutida.
Dependentes do governo – nenhuma sobreviveria se as verbas fossem extirpadas –, elas entram em pânico a cada eleição presidencial. E fazem o que todos sabemos que fazem, pela manutenção de seus privilégios.

Aécio, agora, era a garantia de vida boa para todas elas. O modus operandi de Aécio é conhecido: como governador de Minas, ele triplicou os gastos com publicidade.
Ele não teve o pudor de deixar de colocar dinheiro público nem nas rádios de sua própria família.
Na Minas de Aécio, a imprensa amiga foi bem recompensada com anúncios´, incluída a Globo local.
E aqui um acréscimo importante: fora o dinheiro federal, as grandes corporações de mídia são abençoadas também com anúncios de governos estaduais e municipais.

Em São Paulo, os governos do PSDB têm contribuído na medida de suas possibilidades com empresas como Abril, Estado e Folha. E não só com publicidade. Todo ano, o governo paulista renova um grande lote de assinaturas da Veja para distribuir as revistas em escolas públicas.
Felizmente para a cabeça dos jovens, as revistas sequer são tiradas do plástico que as embala.
Que jovem lê revista, hoje? Mesmo assim, as assinaturas são sempre renovadas.

Mas um passo por vez. Fazer um orçamento de marketing  com base zero nos gastos com publicidade seria uma das atividades mais nobres nestes meses finais de 2014 para a equipe do governo.


Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Dilna e PT terão que mudar

Dilma e o PT terão que mudar



Neste domingo votei em Dilma com duas convicções: 1) a presidente termina seu primeiro mandato com resultados que ficam aquém daquilo que as potencialidades da conjuntura proporcionavam; 2) Dilma e o PT terão que mudar de rumos se quiserem manter a perspectiva de futuro. O resultado das eleições foi uma exceção. A conjuntura era de mudança e a lógica seria a de que a oposição tivesse triunfado. Só não triunfou porque Aécio Neves, embalado pela agressividade, pelo falso moralismo, pela disseminação de preconceitos e pela ausência de um programa consistente, não conseguiu gerar confiança na maioria do eleitorado.
Dilma cometeu inúmeros erros na condução da política econômica. Repetiu fórmulas que deram certo no governo Lula, mas que não faziam mais sentido com as mudanças de conjuntura. Atrasou o plano de infra-estrutura por equívocos e preconceitos iniciais. Adotou uma política monetária e cambial confusa que não conseguiu redirecionar recursos para investimentos produtivos e nem conseguiu manter a inflação baixa. Na política fiscal voltaram as velhas maquiagens, perniciosas à credibilidade do país. No plano externo foi inapetente e manteve o Brasil recuado em suas próprias fronteiras. Não foi agressiva na política comercial – uma exigência dos tempos. O resultado foi a desconfiança dos investidores, o baixo crescimento e a redução de ritmo na criação de empregos e na elevação da renda.
No plano político, os passivos são maiores. Colocou gente que não entende de política para cuidar da articulação política; deixou Gilberto Carvalho esquecido no Planalto, retirando-lhes as funções de articular os movimentos sociais; o Conselhão do governo Lula foi abandonado; o diálogo com os partidos e com a sociedade foi pífio; o Ministério, ou por medo da chefe ou por incompetência, foi uma negação. Em resumo: foi um governo burocrático e arrogante, que não exerceu a atividade política de forma criativa, agregadora de energias e de propósitos orientados por um projeto claro de futuro para o país. Por não definir com clareza os fins do seu governo, perdeu-se nos meios. Dilma escolheu o caminho da solidão e exilou-se dentro de si mesma.
Dilma, antes de tudo, terá que mudar de estilo e de conduta como presidente. Terá que governar exercitando o diálogo democrático, pois sem ele a própria democracia não se desenvolve. Terá que destravar politicamente o governo, seja na relação com a sociedade, seja na relação com os partidos e o Congresso. Terá que trocar a equipe econômica, que carece de credibilidade. Terá que escolher um ministério mais qualificado, com ministros capazes de afirmar sua personalidade política e sua capacidade de gestão. Terá que fazer uma limpeza moral nas estatais, principalmente na Petrobras, para recuperar a credibilidade e a eficiência das mesmas.
Dilma começará o segundo mandato imersa em um paradoxo. Por um lado, terá que recuperar a credibilidade do governo num ano de ajustes duros e com movimentos sociais mais propensos a levarem suas lutas para as ruas. A fragmentação do Congresso também será um enorme desafio. Por outro, é preciso reconhecer que a vitória nas urnas representa uma espécie de resgate da própria presidente. Venceu contra uma conjuntura adversa, contra um adversário que usou as armas do ludibrio e do engano, contra uma parcela conservadora da sociedade que disseminou o ódio e todo o tipo de preconceito, contra a volúpia especulativa do mercado financeiro e contra um bombardeio intermitente e impiedoso de setores da mídia. Dilma deveria saber aproveitar a potência desse auto-resgate para fazer ajustes profundos em seu governo, com o objetivo de produzir resultados profícuos, passadas as dificuldades iniciais do seu segundo mandato. Será a coragem de mudar e o alcance das mudanças que dimensionarão o lugar que Dilma terá na história.

 
O PT Deve Mudar
A campanha eleitoral de 2014 foi marcada por um forte antipetismo em setores expressivos do eleitorado. De acordo com as pesquisas, o PT perdeu a adesão nas classes médias, e da maior parte dos mais jovens e dos mais escolarizados. Mesmo entre aqueles que têm o ensino médio, 49% têm uma imagem negativa do partido. Ao perder a adesão dos jovens, o partido perde a perspectiva de futuro.
As razões do antipetismo são de duas ordens. A primeira diz respeito ao ressentimento de setores da classe média que perderam status social pela ascensão das camadas sociais excluídas. É nítido o incômodo da classe média tradicional com a presença da chamada classe C em aeroportos, nos shoppings, nas universidades, nos cinemas e até com o aumento do número de pessoas proprietárias de carros. O ressentimento social fomenta o ódio que esses setores, que se sentem ameaçados, destilam contra o PT por identificar o partido como promotor da ascensão dos debaixo. A violência verbal e, às vezes física, e até mesmo atitudes neofascistas são alimentadas e radicalizadas pelos representantes midiáticos do conservadorismo. O ressentimento preconceituoso se expressa num coquetel explosivo: antipetismo, homofobia, preconceito contra pobres, negros, nordestinos e mulheres.
A outra face do antipetismo é estimulada pela a corrupção de membros do partido e pela arrogância de petistas. O próprio presidente Lula reconheceu, durante a campanha, que o partido se corrompeu, que se transformou “numa máquina de fazer dinheiro”. Os filósofos políticos clássicos sempre advertiram que a corrupção é o principal mal das repúblicas. Na história das esquerdas democráticas ocidentais, particularmente na América Latina, a corrupção foi a causa da erosão de muitos partidos e governos. O fato é que o PT vem sendo identificado como um partido corrupto nos mais variados setores sociais. Mesmo na classe C, a mais beneficiada pelos governos petistas, a imagem do partido só é positiva para 36%. O PT encontrou uma forma estranha para lidar com a corrupção em suas fileiras e em seus governos: se defende e se justifica atacando a corrupção dos outros partidos. Se o partido quiser renovar-se e sair da vala comum da maioria dos partidos terá que lidar de forma intransigente com o problema da corrupção, promovendo uma limpeza interna e propondo mecanismos institucionais capazes de reduzir a corrupção estrutural que graça no Brasil.
A arrogância e a falta de humildade dos petistas também são combustíveis que alimentam o antipetismo. Invoque-se aqui, novamente, a autoridade do presidente Lula que asseverou que o partido se tornou “um partido de gabinetes”. Na medida em que o PT foi se consolidando como partido do poder, escavadeiras potentes escavaram fossos profundos entre os dirigentes e políticos petistas e o povo. Até mesmo a militância do partido foi sendo afastada de uma relação mais direta com seus líderes, com exceção dos momentos de campanha, é claro. Registre-se que há notórias e honrosas exceções nessas condutas.
Mas não resta a menor dúvida que muitos políticos petistas foram assumindo a ideologia e a conduta do “novo rico” a partir das vitórias eleitorais e do desfrute das comodidades do poder. O partido fechou-se para o diálogo e para as críticas. Fechou muitas portas à participação da militância e dos movimentos sociais. Eleitores e integrantes do partido que ousam criticá-lo são estigmatizados como inimigos – agentes do PIG. Invariavelmente, o debate aberto e crítico, de idéias e propostas, é substituído pelas adjetivações desqualificadoras. Uma pessoa que queira realmente contribuir com a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e solidária não pode apresentar-se como um similar de sinal trocado do radicalismo de direita. Essa arrogância petrificante fez com que setores mais politizados buscassem opções de voto no PSol, por exemplo. O esmorecimento das virtudes políticas e morais no PT paralisou até mesmo sua capacidade de inovar nas políticas públicas. Se o PT quiser recuperar a perspectiva de futuro terá que fazer uma profunda reforma política e moral interna.

Aldo Fornazieri – Cientista Político e Professor da Escola de Sociologia e Política.


domingo, 26 de outubro de 2014

Voto nulo e o “protesto” da melancolia

02 (1)
Tão alienada quanto certas manifestações de intolerância que marcaram disputa eleitoral é a atitude passiva de quem espera pelo “candidato ideal”

Por Christiana Paiva de Oliveira
“A diferença consiste em que a inibição do melancólico nos parece enigmática porque não podemos ver o que é que o está absorvendo tão completamente. (…) O paciente representa seu ego para nós como sendo desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e moralmente desprezível (…). Ele se encontra, de fato, tão desinteressado e tão incapaz de amor e realização quanto afirma. (…) Pelo contrário, tornam-se as pessoas mais maçantes, dando sempre a impressão de que se sentem desconsideradas e de que foram tratadas com grande injustiça”.
(Sigmund Freud, 1917 [1915]. p. 278-281).

“Eu não vejo alternativas, todos esses políticos são iguais, incapazes, uma merda. Não tenho opções viáveis de voto, porque o Brasil nunca vai mudar. Não vou votar em ninguém, já que o país só tende a piorar daqui pra frente. Meu voto será nulo pra protestar contra toda essa corrupção e todo esse sistema eleitoral, afinal, o voto não vale nada, pois se mudasse algo, seria proibido”.
Estamos vivendo em meio as reviravoltas das eleições. Dia 26 de outubro, 2014, será seu ápice, com a resposta que nos angustia até então: um dos candidatos à presidência será eleito, por fim. Nesse contexto, pergunta-se: e nós, por onde andamos?

Não raro, encontramos eleitores com discursos calorosos, que insistem em nos convencer sobre o candidato ideal. Ai de quem ousar se aproximar dessa fala sem ceder aos caprichos de quem os profere. Qualquer opinião que se oponha é rechaçada duramente, bem como o espaço para a reflexão, que fica aniquilado. Nos lembram crianças, que ao serem contrariadas, fazem birra: gritam, insistem, e as vezes até partem para a violência. Vemos, por entre notícias¹ e vivências próprias, que o lado mais inóspito existente em nós tem aflorado durante os embates políticos, disseminando o ódio contra uma suposta minoria difusa e descabida. É como se as certezas infantis, com ares onipotentes, fossem incontestáveis.
Por outro lado, visitamos eleitores desencontrados, proclamando a anulação dos votos diante dessa disputa acirrada. Desesperançosos e insatisfeitos, tais eleitores se mostram pessimistas, na insistência de ressaltar apenas o lado negativo que os cerca. Nessas eleições, já experienciamos reviravoltas políticas, discursos de ódio explícitos e informações deturpadas. Seria possível manter uma neutralidade frente a esses fatos? Sendo assim, o que buscam os eleitores, ao insistirem na anulação dos votos?
O discurso dos que defendem tal atitude tem ressoado cada vez mais com caráter melancólico: é letárgico, esvaziado, pincelado por tons acinzentados. Tais sujeitos não veem futuro viável, se afundam em suas lamentações, profundas, com caráter inquestionável. De acordo com Freud, pai da psicanálise, o melancólico se baseia em suas idealizações para tomar uma atitude. No entanto, tem algo que assombra e rege o melancólico, que é a perda.
Estamos falando de um sujeito que faz questão de articular sua incapacidade de conquista ao seu vazio. A ele, faltam dinheiro, perspectivas e habilidades que o instiguem ao sucesso. E há algo aqui que devemos nos atentar, ligado às identificações. Quanto mais a perda se sobressai, mais o melancólico se identifica com ela e se autoflagela. Ele passa a se acusar constantemente, na medida em que se afasta do seu plano ideal – e como a palavra nos revela, impossível de ser alcançado. Estamos, portanto, diante de um crítico em potencial e pessimista.
Há em sua atitude, referente a anulação do voto, um protesto silencioso e acomodado. Aqui, cabe lembrar que por mais árdua que seja a situação do melancólico, mudar requer uma nova busca, ligada a novos investimentos. Concomitantemente, investir toda essa energia requer um grande trabalho, algo que o melancólico abomina. Desse modo, não fiquemos estagnados por essa inércia lamuriante. Rememoremos, pois, nossas conquistas históricas, desprezadas pelos ares da melancolia – e valorizar as vitórias não é aludir ao conformismo, que também nos poda às novas criações.
As “Diretas Já” tem seu mérito para a democracia – que apesar de muitas vezes ser deturpada por configurações políticas adulteradas – marca uma vitória libertadora, pós ditadura militar. É com essa nova perspectiva que o cidadão brasileiro retoma a voz, mesmo que por entre breves sussurros, sobre o segmento político, social e histórico de seu país. Foi através de debates, ações e lutas contra a violência, abuso de poder e respectivas censuras que a mudança foi concretizada. Com isso, temos que cuidar para que o peso da crítica não esmague tais segmentos. Sob o olhar do melancólico tudo fica apequenado, assim como suas vivências, que são massacradas pela sua insatisfação constante.
Onde estaria o ato de protesto dos que defendem o voto nulo, já que este, ao passar de 50% na contagem final, não anula a eleição? Tampouco força o surgimento de uma nova arcada de políticos, ao contrário do que muitos acreditam. É possível compreender que os candidatos à nossa disposição não preenchem por completo nossas expectativas, mas quem, ou o que, estaria qualificado para tamanha idealização? Valorizemos os protestos atuais, os engajados, os torturados e tantos outros que lutaram por nós 30 anos atrás – e que essa fala ecoe para além da nostalgia, para que possamos nos inspirar e prosseguir sempre com novos questionamentos e ações.
Ao optar por um determinado candidato, o melancólico tem que arcar com o peso da sua escolha e com o árduo fardo da responsabilidade que sucede tal atitude. Além disso, a impossibilidade de dedicar seu voto a alguém estaria ligada à irrealizável tarefa de enxergar um ideal nessas eleições, em que ninguém serve como salvador ideal de nossas condições. O melancólico critica e não parte para a ação, espera que o tempo passe e que a situação se modifique, enquanto ele permanece estagnado na lamentação.
Lembremos, por fim, que o voto nulo é, também, uma escolha. O percurso desse texto não alude à generalização, uma vez que tal opção implica num caráter subjetivo. A todo momento, as referências feitas foram ao discurso derrotista e esvaziado, que mina qualquer possibilidade futura. Ou seja, a crítica recai ao posicionamento que não ultrapassa a lamúria, mantendo-se na superficialidade da questão. Se não há candidatos que representem o eleitor, ou se não há propostas viáveis, o voto nulo pode indicar essa abstenção, mas com que peso? É válido destacar que se o cenário político encontra-se assim, cabe pensar – para além das anulações – sobre como os ditos representantes do povo inserem um retrato do nosso atual cenário brasileiro. Cabe a nós, então, criticar e reivindicar, sem contentar-se com a derrota incitada pelo melancólico.
Não pretendo participar da confecção do DSM VI, manual psiquiátrico, mas sim, acirrar discussões e novas reflexões sobre nossas aspirações melancólicas, que nos tomam cotidianamente e nos cegam com nossos próprios ideais.

¹Apoiadores de Aécio agridem blogueiro cadeirante eleitor de Dilma < http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/10/apoiadores-de-aecio-agridem-blogueiro-cadeirante-eleitor-de-dilma.html

Referências Bibliográficas:
Freud, Sigmund (1969). Luto e melancolia. (1917 [1915]). In: Edição Standart Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Editora Imago; vol. XIV.
Pragmatismo Político. Apoiadores de Aécio agridem blogueiro cadeirante eleitor de Dilma. Disponível em: < http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/10/apoiadores-de-aecio-agridem-blogueiro-cadeirante-eleitor-de-dilma.html > Acesso em: 19 Out. 2014
rodapé-posts-margem