segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Dez técnicas mais usadas de manipulação da opinião pública





Realidade mitificada: Conheça (e faça bom uso) as dez técnicas mais usadas pelos grandes meios de comunicação para manipular a sociedade
Os que não são idiótes (no sentido grego: os que se voltam para a vida privada menosprezando completamente a vida pública) jamais podem ignorar como a grande mídia mistifica a realidade e manipula a opinião pública.
manipulação mídia noam chomskyTodos os grandes meios de comunicação têm, naturalmente, suas preferências – partidárias, eleitorais, ideológicas e, sobretudo, pecuniárias. Já sabemos que nas democracias venais contemporâneas o dinheiro deslavadamente gera poder e que o poder desavergonhadamente gera dinheiro. A mídia, na medida em que filtra e manipula conteúdos, apresenta-se como uma das pontes privilegiadas de ligação dessa política institucionalmente argentária.
O linguista e sociólogo Noam Chomsky, professor emérito do Massachusetts Institute of Technology (em Boston) e tido pelo New York Times como “o maior intelectual vivo”, catalogou as dez técnicas de mistificação e manipulação promovidas pela grande mídia [1]. Trata-se de um decálogo extremamente útil, especialmente para aqueles que bravamente desafiam a inexpugnável ignorância diária. Vejamos:
1. A estratégia da distração. É fundamental, para o grande lobby dos poderes, manter a atenção do público concentrada em temas de pouca relevância (programas banais de TV, por exemplo), fazendo com que o cidadão comum se interesse apenas por fatos insignificantes. A exagerada concentração em fatos da crônica policial, dramatizada e manipulada, faz parte desse jogo.
2. Princípio do “problema-solução do problema”. A partir de dados incompletos, incorretos ou manipulados, inventa-se um grande problema para causar certa reação no público, com o propósito de que seja este o mandante – ou solicitante – das medidas que se quer adotar (é preciso dar voz ao povo). Um exemplo: deixa-se a população totalmente ansiosa com a notícia da existência de uma epidemia mortal (febre aviária, por exemplo), criando um injustificado alarmismo com o objetivo de vender remédios que de outra forma seriam inutilizados.
3. A estratégia da gradualidade. Para fazer o povo aceitar uma medida inaceitável, basta aplicá-la e noticiá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos – ou meses, ou dias – seguidos. É dessa maneira que se introduzem novas e duras condições socioeconômicas, em prejuízo da população. Tudo é feito e contado gradualmente, porque muitas mudanças juntas podem provocar uma revolução.
4. A estratégia do diferimento (adiamento). Um outro modo de fazer aceitar uma decisão impopular consiste em apresentá-la como “dolorosa e necessária”, alcançando-se momentaneamente sua aceitação, para uma aplicação futura (“piano piano si va lontano”, o equivale mais ou menos ao nosso “devagar se vai ao longe”).
5. Comunicar-se com o público como se falasse a uma criança. Quanto mais se pretende enganar o público, mais se tende a usar um tom infantil. Diversos programas ou conteúdos possuem essa conotação infantilizada. Por quê? Se nos comunicarmos com as pessoas como se elas tivessem 11 anos de idade, elas tendem a responder provavelmente sem nenhum senso crítico, como se tivessem mesmo 11 anos de idade (as crianças não conseguem fazer juízos abstratos).
6. Explorar a emotividade muito mais que estimular a reflexão. A emoção, com efeito, coloca de escanteio a parte racional do indivíduo, tornando-o facilmente influenciável, sugestionável. Essa é a grande técnica empregada pelo populismo demagogo punitivo.
7. Manter o público na ignorância e na mediocridade. Poucos conhecem, ainda que superficialmente, os resultados já validados das ciências (criminais, médicas, tecnológicas etc.). A manipulação fica facilitada quando o povo é mantido na ignorância; isso significa dizer não à escola de qualidade para todos.
8. Impor modelos de comportamento. Controlar indivíduos enquadrados e medíocres é muito mais fácil que gerir indivíduos pensantes. Os modelos impostos pela publicidade são funcionais para esse projeto.
9. A autoculpabilização. Todo discurso (midiática e religiosamente) é feito para fazer o indivíduo acreditar que ele mesmo é a única causa do seu próprio insucesso e da própria desgraça. Que o problema é individual e não tem nada a ver com o social. Dessa forma, ao contrário de se suscitar uma rebelião contra o sistema socioeconômico que marginaliza a maioria, o indivíduo se subestima, se desvaloriza, se torna depressivo e até se autoflagela (assim é a vida no “vale das lágrimas”). A culpa pelo desemprego, pelo não encontro de novo emprego, pelo baixo salário (neoescravizador), pelas condições deploráveis de trabalho, pelo insucesso escolar, pela precarização das relações trabalhistas, pela diminuição do salário-desemprego, pela redução das aposentadorias, pela mediocridade cultural, pela ausência de competitividade no mercado etc. é dele, exclusivamente dele, não do sistema.
10. Os meios de comunicação sabem mais de você que você mesmo. Eles conhecem nossas preferências, fazem sondagens e pesquisas, diagramam nossas inclinações políticas e ideológicas e, mais que isso, sabem como ninguém explorar nossas emoções (sobretudo as mais primitivas). Não se estimula quase nunca a reflexão. O sistema manipula e exerce um grande poder sobre o público, muito maior que aquele que o cidadão exerce sobre ele mesmo.
Faça bom uso deste decálogo.
[1] CHOMSKY, Noam. “Ecco 10 modi per capire tutte le bugie che ci raccontano”, emLatinoamerica e tutti i sud del mondo, números 128/130. Roma: GME Produzioni, 2014/2015, páginas 146-147.
Luiz Flávio Gomes, Congresso em Foco
Fonte: Pragmatismo Político 

Quem ganha com o ajuste fiscal?


ajuste fiscal
O esgotamento do ciclo de crescimento impulsionado pela bolha especulativa internacional instalou definitivamente a crise econômica no Brasil. Seus efeitos devastadores sobre a vida nacional polarizam a luta de classes em torno de uma questão fundamental: como sair da crise? Com o apoio integral da grande mídia, os sacerdotes da ordem bombardeiam a opinião pública com a ideia de que a solução da crise brasileira passa por um draconiano ajuste fiscal. Equiparando a economia política do setor público à economia doméstica das famílias, a sabedoria convencional clama pelo enquadramento do Brasil no regime de austeridade fiscal, cuja essência consiste em buscar o equilíbrio fiscal pelo corte sistemático de gastos públicos, supostamente os responsáveis pela trajetória ascendente da dívida pública.
Os oito textos reunidos neste dossiê – escritos especialmente para o blog – desmistificam a farsa. Eles mostram que o desequilíbrio das contas públicas não está associado ao “excesso” de gasto público, pois, na realidade, o superávit primário – a diferença entre a receita tributária e os gastos com política social e investimentos – foi de cerca de 3% do PIB nos últimos treze anos. Em outras palavras, o Estado brasileiro não fez nenhuma gastança como se apregoa histérica e irresponsavelmente nos meios de comunicação, mas uma expressiva economia de recursos. O rombo nas contas públicas é provocado pelos efeitos perversos das operações monetárias e do setor externo do Banco Central sobre as despesas financeiras do setor público, reforçado pelo próprio movimento endógeno de expansão da dívida determinado pela lógica de capitalização de juros. A dinâmica perversa que explica a expansão da dívida pública, por sua vez, é intrínseca a uma política econômica que subordina o Estado brasileiro aos interesses do grande capital nacional e internacional – o Plano Real. Os autores evidenciam que o verdadeiro objetivo do “arrocho ortodoxo” não é equilibrar as contas públicas – o que seria impossível sem uma substancial desvalorização da dívida pública –, mas assegurar gigantescas transferências de fundos públicos para os capitalistas e, sobretudo, perpetuar a submissão da política econômica à disciplina do capital internacional em tempos de crise. A crítica da visão distorcida e fetichista da crise fiscal e da naturalização do ajuste ortodoxo como remédio inexorável para os problemas da economia brasileira constitui uma importante trincheira da batalha das ideias contra a noção de que “não há alternativa” senão reforçar a marcha insensata que coloca o Brasil na mesma rota que levou à tragédia grega.
Somos gratos a Plínio de Arruda Sampaio Jr., docente do Instituto de Economia da Unicamp e membro do Conselho Consultivo do blog, pela produção do dossiê, inclusive pela autoria deste breve texto de Apresentação.
Difundindo a produção teórica marxista no Brasil, marxismo21 busca também intervir no debate sobre temas e problemáticas relevantes da conjuntura política e social do país.
Editoria / Outubro de 2015
ps. Ao final do dossiê, novos textos serão inseridos após serem avaliados pela Editoria.
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Guilherme Delgado
Jean Peres
José Menezes Gomes
Luiz Filgueiras
Marcelo Dias Carcanholo
Maria Lúcia Fattorelli
Rodrigo D’Ávila
Rúbens Sawaya
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Leonardo de Magalhães Leite