quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Ninguém mais quer conversar?

Sherry Turkle quer saber por que cada vez nos comunicamos mais pelo celular

Psicóloga reabre o debate sobre o uso da Internet e as conversas que não são cara a cara

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LUIS SEVILLANO
Sherry Turkle quer abrir uma discussão sobre a arte de conversar. Esta psicóloga norte-americana do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), uma das grandes estudiosas da digitalização de nossas vidas, quer saber por que cada vez mais nos comunicamos por celulares e dispositivos móveis em vez de fazê-lo pessoalmente, por que escolhemos enviar mensagens de texto e ligamos menos, e por que conversamos com um amigo enquanto estamos sentados na mesa com nossos filhos na hora do jantar.
Será que a arte de conversar está em crise? A pergunta inspirou a pesquisa que se tornou o livro Reclaiming Conversation, o último trabalho de Turkle, que há três décadas estuda como nos adaptamos aos avanços da tecnologia e sua influência em nossas relações. A autora representa hoje o setor mais moderado e realista de um contexto no qual que estamos mais acostumados a ouvir ao extremo. Turkle não acredita que a tecnologia seja o problema, mas sim como a utilizamos, e propõe que façamos um uso “deliberado” de nossos dispositivos.
A especialista fala do pai que acompanha sua filha de sete anos a uma excursão do colégio e se dá conta de que passou uma hora atualizando fotos de seu perfil de Facebook, mas não falou uma vez sequer com a menina. Do jovem que admite que olha o telefone para ver se há mensagens de seus amigos, mas que na falta de atualizações entra no TwitterInstagram ou Facebook, “lugares familiares” para ele. “Nesse momento o telefone é meu amigo”, explica. Ou da universitária que reconhece que, ao saber que o familiar de uma amiga faleceu, lhe envia um e-mail, mas não telefona para ela “para não atrapalhar”.
Os adultos norte-americanos consultam seu telefone em média a cada seis minutos e meio
Os adultos norte-americanos consultam em média seu telefone a cada seis minutos e meio. “Por que passamos tanto tempo enviando mensagens e mesmo assim nos sentimos tão desconectados dos demais?”, pergunta Turkle. A resposta, segundo ela, está tanto na falta de conversas cara a cara como na quantidade de vezes que as abandonamos para olhar o telefone. “Nós nos esquecemos de que há uma nova geração que cresceu sem saber o que é uma conversa sem interrupções”, garante.
Em seu livro anterior, Alone Together, Turkle fez seu primeiro diagnóstico do efeito da comunicação digital nas relações pessoais. As entrevistas que fez na época revelavam um mundo no qual os jovens estão frustrados pela falta de controle sobre as conversas que mantêm. Não sabem se seus interlocutores vão escutá-los ou para onde a conversa pode ir. Sentem-se incapazes de antecipar sua resposta. Em Reclaiming Conversation, Turkle defende que a sociedade deve aproveitar esse sentimento de engano para voltar à palavra falada, que define como uma “cura” diante da digitalização das interações sociais.
“A tecnologia está aqui para ficar, com todas as maravilhas que traz, mas é o momento de considerar como ela afeta outras coisas que apreciamos”, diz. Um dos riscos, segundo Turkle, é que podemos perder uma qualidade essencial nas relações humanas: a empatia. “Toda vez que você consulta seu telefone na presença de outras pessoas, estimula seus neurônios, mas também perde o que seu amigo, professor, cônjuge ou familiar acaba de dizer.”
A especialista garante que a conversa, o lugar no qual ouvimos e conhecemos o outro, é o espaço que representa mais riscos. “Nós nos escondemos uns dos outros porque é mais fácil compor e editar uma mensagem” digital do que “a conversa espontânea na qual podemos estar presentes e ser vulneráveis”. Alguns de seus entrevistados reconhecem que preferem “enviar uma mensagem” em vez de ter uma conversa “incômoda” com outra pessoa “na qual não podem controlar o que vão dizer”.
Diante da visão cética de Turkle, o debate sobre as benesses, supostas ou não, do mundo online inspirou grandes defesas por parte de outros dois especialistas norte-americanos. O professor nova-iorquino Jeff Jarvisdescreve a Rede como uma “grande oportunidade para aumentar a transparência”. Jarvis criou seu primeiro blog no mesmo dia que caíram as Torres Gêmeas nos atentados de 11 de Setembro de 2001. Desde então, defende que a comunicação via web não leva à solidão, mas que está alimentando uma cultura de compartilhamento sem precedentes e de “fabricar relações”. E estas relações são, segundo seu colega Clay Shirky, o verdadeiro potencial da Internet. Suas ideias, desenvolvidas em obras como Cognitive Surplus ou Lá Vem Todo Mundo, revelam que essas ferramentas permitem liberar nossas ansiedades humanas ancestrais de compartilhar, de nos relacionar, de cooperar, de sermos criativos.
Turkle abrange em sua pesquisa todo tipo de conversas, conosco mesmos, com nossa família e amigos, com nosso parceiro, nossos professores ou nossos companheiros de trabalho e com o resto da sociedade. Turkle alerta que “a tecnologia está nos silenciando” e que os telefones, computadores e tablets nos ajudaram a nos afastar do contato pessoal. “Até um telefone em silêncio inibe a conversa.” A interação digital atrai porque é a promessa de cumprir três de nossos desejos: “Que sempre vamos ser ouvidos, que podemos prestar atenção onde e quando quisermos, e que nunca teremos de ficar sós.”
Prefiro enviar uma mensagem de texto”
A autora reconhece que grande parte da dependência dos dispositivos móveis se deve ao fenômeno conhecido como ‘FOMO’ –Fear of missing out– o medo de perder o que acontece enquanto estamos desconectados. Mas alerta que, levado ao extremo, condena os usuários a fazer constantemente várias coisas ao mesmo tempo: consultar o telefone durante o jantar com a família, responder e-mails durante uma reunião, apagar mensagens no semáforo. “Quando pensamos que somos multitarefa, na verdade nosso cérebro se move rapidamente de uma tarefa para outra e nossa efetividade decai com cada coisa que acrescentamos”, escreve.
A professora do MIT aponta as relações com as crianças como o maior perigo da tecnologia e relembra quase com nostalgia quando dizia à filha “use suas próprias palavras” em uma conversa ou “olhe para mim enquanto falo”. “Os menores aprendem que, façam o que fizerem, não conseguem atrair a atenção dos adultos que estão conectados. Vemos crianças que não conversam, mas também pais que não as olham nos olhos”, escreve Turkle. Nos menores está também a primeira promessa de esperança. “A maneira mais realista de romper este círculo é que os pais assumam sua responsabilidade como mentores (...) Não temos que pedir aos filhos que larguem o telefone, temos que dar o exemplo.”
Todos podemos estimular essa volta à conversa, diz Turkle, dando pequenos passos, como fazer as coisas mais devagar, criar lugares “sagrados” – em casa, na escola ou no escritório – onde não entrem os dispositivos móveis, ou convocar reuniões só para conversar. “Em vez de responder e-mails enquanto empurra o carrinho de sua filha, fale com ela; em vez de colocar um tablet no berço de seu bebê, leia um livro para ele.”
Fonte: Jornal El País

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017




SOBRE ESTAR SOZINHO

Flávio Gikovate



Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei.
Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma ideia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal. A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.

O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado.Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. 


A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.

Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não à partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação,há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.
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A vida, um intermezzo entre a infância e a velhice
Envelhecer é um privilégio, uma arte, um presente. Somar cabelos brancos, arrancar folhas no calendário e fazer aniversário deveria ser sempre um motivo de alegria. De alegria pela vida e pelo que estar aqui representa.
Todas as nossas mudanças físicas são reflexo da vida, algo do que nos podemos sentir muito orgulhosos.
Temos que agradecer pela oportunidade de fazer aniversário, pois graças a ele, cada dia podemos compartilhar momentos com aquelas pessoas que mais gostamos, podemos desfrutar dos prazeres da vida, desenhar sorrisos e construir com nossa presença um mundo melhor…
As rugas nos fazem lembrar onde estiveram os sorrisos
As rugas são um sincero e bonito reflexo da idade, contada com os sorrisos dos nossos rostos. Mas quando começam a aparecer, nos fazem perceber quão efêmera e fugaz é a vida.
Como consequência, frequentemente isso nos faz sentir desajustados e incômodos quando, na verdade, deveria ser um motivo de alegria. Como é possível que nos entristeça ter a oportunidade de fazer aniversário?
Porque temos medo de que, ao envelhecermos, percamos capacidades. Porque pensamos na velhice como um castigo, de maneira pejorativa e humilhante. Do mesmo modo, fazer aniversário nos faz olhar para trás e nos expõe ao que fizemos durante nossa vida.
Dizer obrigado por cada ano completo
Deveríamos agradecer à vida pela oportunidade de permanecer e de ter a capacidade e a consciência de desfrutar. Que sentido tem nos lamentarmos e nos queixarmos por termos possibilidades? Não é verdade que daríamos o que fosse para ter aqueles que perdemos do nosso lado? Por que não colocamos vontade na vida e deixamos de dissimular nosso caminhar?
Fazer aniversário deveria ser um motivo de alegria. Cada dia conta com 1440 minutos de novas opções, de maravilhosos pensamentos, de centenas de matizes em nossos sentimentos. Cada segundo nos faz mais capazes de experimentar e de aproveitar todas as opções que surgem ao nosso redor.
Cada ano é uma medalha, uma oportunidade para acumular lembranças, para fazer nossos os instantes, para soprar as velas com força e orgulho. Deseje continuar cumprindo sonhos, segundos, minutos, horas, dias, meses e anos… E, sobretudo, poder celebrá-los com a vida e com as pessoas que o rodeiam.
QUANTOS ANOS TENHO?
Tenho a idade em que as coisas se olham com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam a se acariciar com os dedos e as ilusões se tornam esperança.
Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma louca labareda, ansiosa para se consumir no fogo de uma paixão desejada. E outras, é um remanso de paz, como o entardecer na praia.
Quantos anos tenho? Não preciso de um número marcar, pois meus desejos alcançados, as lágrimas que pelo caminho derramei ao ver minhas ilusões quebradas…
Valem muito mais do que isso.
O que importa se fizer vinte, quarenta, ou sessenta!
O que importa é a idade que sinto.
Tenho os anos que preciso para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pelo atalho, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus desejos.
Quantos anos tenho? Isso a quem importa!
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e sinto.
– José Saramago –
Entre a infância e a velhice há um instante chamado vida
Não se lamente por envelhecer. A vida é um presente que nem todos temos o privilégio de desfrutar. É um frasco de suspiros, de tropeços, de aprendizagens, de prazeres e de sofrimentos. Por isso, em si mesma, é maravilhosa.
E também por isso é imprescindível aproveitar cada momento, fazê-lo nosso, nos sentirmos afortunados. Acumular juventude é uma arte que consiste em fazer com que seja mais importante a vida dos anos do que os anos de vida.
Não é tão importante se somamos cabelos brancos, rugas ou se nosso corpo nos pede trégua a cada manhã. O que verdadeiramente é relevante é crescer, porque no final das contas, fazer aniversário é inevitável, mas envelhecer é opcional.