Além de querer mudar o passado, ou ficarem lamentando-o, por vezes
procuramos reproduzi-lo, buscando repetir as coisas boas de antigamente.
Essas tentativas tendem a originar frustrações. Lamentavelmente, os
bons momentos não voltam nem, felizmente, os maus acontecimentos. Quando
o passado porventura retorna, vem como caricatura, sem o mesmo paladar.
O maravilhoso sabor do doce que comemos na infância é irreproduzível. E
os pequenos perigos que ameaçam uma criança quase nunca geram risco para um adulto, afirma o psiquiatra Luiz Py.
Muitos sofrimentos emocionais pelos quais passamos estão ligados a
duas coisas sem o menor sentido. Por um lado, uma busca inútil de
prazeres antigos, ou velhas alegrias, impossíveis de serem reproduzidos.
Ou então, um medo absurdo e desnecessário de acontecimentos negativos
que não se repetirão. Em ambos os casos, estamos lidando – geralmente
sem perceber conscientemente – com acontecimentos passados que são
sentidos como ameaças ao nosso futuro ou como realizações desejáveis
para o porvir. É importante nos darmos conta de que em geral não existe
relação alguma entre o que foi vivenciado por nós no passado com o que
poderemos usufruir no futuro.