sábado, 25 de julho de 2015

A direita grita, manipula e esperneia, mas o jogo está jogado

O apagar das luzes da direita neocolonial

E de como as coisas podem piorar antes de melhorar
Fui um dos primeiros a sinalizar a improbabilidade do golpe ou do impeachment no artigo “Uma direita fraca a caminho de uma derrota histórica”. E muitos estão intuindo o mesmo. Vejamos o cenário:
A crise política por que atravessamos, que tem no palco principal um conflito dos setores conservadores e da mídia contra um projeto democrático e popular nucleado pelo PT, inclui também uma luta encarniçada entre diferentes setores da burguesia pela hegemonia política do campo burguês. Em outras palavras há uma briga de brancos ao tempo que o projeto petista é também posto em cheque.
Ora, quais são os setores que se engalfinham por essa hegemonia do campo burguês?
De um lado claramente está a velha mídia golpista aliada a setores do capital financeiro, rentistas e a segmentos do capital internacional interessado em reduzir o Brasil ao velho papel colonial, de fornecedor de matérias primas e agora de petróleo... esse desenho é inviável, e não por acaso, desde 1822. Até a ditadura aspirava a um Brasil potência... Não será agora que nos curvaremos. Não nos enganemos essas manchetes do Estadão de que os EUA investigam a Odebrecht pegam mal, só eles não percebem. Aliás acham o máximo.
Há dois dias no editorial do Estadão intitulado “A vez de Lula”, todos os empresários presos na Operação Lava Jato foram classificados como amigões do presidente petista, uma condição suficiente, no artigo, para provar a sua culpabilidade clara e inelutável.
É óbvio que esses empresários, por dever de ofício, têm que manter bons relacionamentos com todas as lideranças da alta política nacional, gente com quem estabelecem relações contratuais e compartilham ideias sobre a economia, as finanças e os grandes projetos nacionais ou estaduais. Nada mais natural do que esperar que um Marcelo Odebrecht possa ter trato e relações cordiais com José Serra ou com Lula.
Surpreendente mesmo é o tom do editorial do Estadão pelo total e ostensivo desprezo e desrespeito por esses personagens que, à semelhança dos seus proprietários, fazem parte da mais alta burguesia brasileira, personagens com quem provavelmente desfrutaram momentos de convívio e de negócios. O editorial, portanto, atira no projeto petista e atira no segmento da burguesia que pretende subordinar e punir. A leitura do editorial evoca muito mais uma linguagem de um futebolismo triunfalista do que a da análise fria e inteligente do conservadorismo dos “bons” tempos. Tais excessos exalam o odor rançoso da ansiedade e do medo de que talvez a realidade venha a ser outra. O editorial foi uma espécie de oração macabra.
O outro polo da disputa da hegemonia nesse campo burguês é o que prosperou (oh sumo pecado!) no ciclo petista através de megacontratos com o Estado brasileiro, emprestando à esquerda uma credibilidade imperdoável.
O cálculo errado que a mídia e seus aliados fazem vem de que esses setores não desaparecerão. Talvez até fiquem enfraquecidos momentaneamente, mas sobreviverão com uma identidade política nova, tendo aprendido a nova geografia política na melhor e mais indelével escola possível, a do sofrimento físico e psicológico produzido por esses tempos de agruras. Cedo ou tarde darão o devido troco e se só pensavam em negócios, agora pensarão obsessivamente e vingativamente em política.
A luta sem quartel e sem limites que a mídia e seus aliados desenvolvem contra o projeto petista tampouco poderá produzir o desaparecimento do proletariado do cenário da política. Se há algo de positivo nas recentes pesquisas de intenção de voto para presidente é o fato de que Lula reina soberano no segmento estratégico para o Partido dos Trabalhadores: os assalariados que ganham até um salário mínimo. Esse é o fato novo da política nacional, que nos assimila à outras democracias onde o trabalhador conhece o seu lado. Antigamente os mais pobres votavam na direita.
O PT aliás está sucumbindo bem mais por sua incapacidade de conceber a continuação do processo histórico que iniciou do que pelos golpes da mídia reacionária. Também sobreviverá. Reconheçamos que, talvez, como resultado da crise e da sua incapacidade de superar-se, venha a ter que compartilhar o protagonismo na esquerda com algum outro partido, tal como o Podemos na Espanha vem obrigando por lá o PSOE.
Então, na pior hipótese para o PT, o proletariado e seus aliados duplicam a sua representação partidária, agregando algum “partido movimento” ao cenário brasileiro. Se essa hipótese não é desejável para o PT é ainda muito pior para as forças conservadoras lideradas pela mídia... A esquerda na presente quadra da história poderia funcionar como uma Hidra cuja cabeça eventualmente cortada duplicaria e continuaria o combate, acrescentada de uma credibilidade e de um furor juvenis.
Ciro Gomes, Requião, Roberto Amaral, Jean Wyllys, Luiza Erundina, Paulo Paim, Luciana Genro dentre outros encarnam essa possibilidade muito viva, aliás, de recortes à esquerda tão ou mais danosos ao projeto conservador do que o que pode mover o PT...
Concentremo-nos agora no que caracteriza esse campo conservador na política: a) o seu projeto de sociedade é inexistente, b) a teia de “alianças” políticas que o sustenta é instável e explosiva, pois regrupa desde setores neopentecostais até dondocas peladas pelas ruas e c) a sanha entreguista que nucleia os seus espasmos políticos é capaz de produzir feitos de uma burrice colossal.
Sem querer ser exaustivo vamos lembrar de algumas lambanças como a de querer subordinar a Petrobrás às multinacionais do Petróleo no pré-sal, a de querer acusar o presidente Lula de terajudado empresas brasileiras a obter mercado estrangeiro, ou a inenarrável vontade de leiloar o Banco do Brasil e a Caixa... O processo atual movido contra o presidente Lula é, aliás, o maior presente que as forças conservadoras poderiam dar a ele. Será lembrado no programa eleitoral de 2016 e 2018 com pompa e circunstância. E acentua a aliança do proletariado ao segmento em claro conflito com os setores conservadores liderados pela mídia, tornando claro que é uma luta em duas frentes.
Essa inacreditável sucessão de burrices demonstra que essa direita não é mais concorrencial no Brasil. Não morreu politicamente, mas morreu historicamente. Não é mais germinal de nada. Trata-se de um monstro que está vivo, mas está acuado e não suporta a luz do dia. O exemplo mais claro disto é o DEM, cuja trajetória declinante o converteu num cadáver insepulto. Nem no Nordeste tem mais relevância, nem dorme em paz.
O recuo da Veja do impeachment decorre, claramente, dessa percepção de que o seu principal beneficiário seria... Lula. Eles têm razão, mas por que? Muito simples, a direita não tem projeto a apresentar à sociedade capaz de produzir consenso. O arrocho que preconizam seria pior do que o de Dilma... Na verdade, não haverá hora boa para mostrar o rosto frankensteiniano ao grande público.
Suponhamos, no pior cenário, que consigam efetivamente derrubar a presidenta honesta para entregar o poder a Eduardo Cunha por três meses e que consigam eleger na sequência, o ínclito Aécio Neves. O que vão fazer? Entregar o pré-sal? Leiloar o Banco do Brasil? Estabelecer leis draconianas contra as religiões de matriz africana? Arrochar o Salário Mínimo? Estabelecer um setor para pardos nos aviões? E se fizerem isto tudo, durarão quanto tempo?
Lembremo-nos da revolução francesa e de Napoleão. A Restauração veio, mas não conseguiu fazer retroceder a revolução burguesa... A história não dá marcha a ré.
A mídia e seus aliados precisam manter o tônus do ataque contínuo pelo mesmo fenômeno que apenas o movimento põe uma bicicleta em pé. Se pararem caem.
A burguesia produtiva e o proletariado aguardam apenas que essa novela chata termine. Precisamos, sem pompa, virar de uma vez essa chatérrima página da nossa história.
Vamos sedimentar uma coisa: a supremacia na sociedade brasileira de hoje é das forças nacionais, democráticas e populares e quanto a isto, nada pode ser feito.
Seria bom, para deixar de atormentar as almas mais sensíveis do nosso lado pararmos de falar dessa besteira de impeachment, e se ele vier, num par de anos as forças democráticas estarão no comando de novo.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Fábrica de mitos

Reinventando a história: 

O mito da estabilidade no governo FHC


Transformar oito anos de instabilidade monetária, colapsos cambiais e bancarrotas nacionais em uma rósea paisagem de estabilidade parece ir bem mais longe do que uma reinvenção da história

Por Lecio Moraes, no Blog do Renato Rebelo
Efeméride convocada no Senado na semana passada comemorou o aniversário do Plano Real. Um importante plano que debelou a hiperinflação, mas que abriu também caminho para implantação plena às chamadas políticas neoliberais de abertura e desregulamentação. Entretanto, o Plano não trouxe estabilidade monetária e financeira para o país, como muitas vezes se divulga. O Plano trouxe, juntamente com as políticas neoliberais, elevados custos relativos à estagnação econômica, bem como os relativos ao endividamento público.
Na homenagem do Senado os oradores tentaram sucessivamente vincular o sucesso do Real ao próprio governo FHC e suas políticas neoliberais. Nessa tentativa, os oito anos de FHC, no pós-Real foi “reinventado” como um período de estabilidade monetária e financeira para o país.
Vejamos como o exame das variáveis de taxa de inflação, taxa cambial e taxa de juros mostram como os governos FHC não trouxeram nenhuma estabilidade à economia, nem mesmo a monetária.
Restabelecendo a história: a continuidade da instabilidade monetária pós-Real
Comecemos pela suposta estabilidade monetária. O que se alega é que o Plano Real, além de eliminar a hiperinflação, criou uma moeda de valor estável, o que já se revelou nos oito anos dos governos FHC.
Primeiro vejamos como o Plano Real funcionou. A ideia do Plano na verdade nada teve de original: depois de alinhar os preços com a URV (unidade referencial de valor, essa sim uma boa ideia), apenas atrelou a nova moeda, o real, ao dólar, praticamente ao par (um por um). Com isso houve uma súbita valorização da nova moeda, tornando os bens importados ainda mais baratos.
O custo da manobra, no entanto, foi a imediata supervalorização da moeda, acompanhada por uma elevação das taxa de juros a níveis estratosféricos (na virada de 1994/95 chegou a 60% ao ano) para atrair dólares.
No entanto, a taxa de inflação pós-real se manteve longe da estabilidade. Em 1995, a taxa foi de 22%, e continuou variando 9% ao ano, em média, até 2002. No primeiro governo, a inflação já tinha acumulado 43%. Somando os dois governos, o acumulado chegou a 100%. E pior, ao acabar o período, em 2002, a taxa tinha voltado a uma inflação de dois dígitos, marcando 12,5% e subindo. Só para comparar, o acumulado de oito anos de Lula foi de 56% e os quatro de Dilma chegaram a 27%.
Essas elevadas taxas de inflação prejudicaram a estabilidade cambial, desafiando até a incrível taxa de juros real adotada, que terminou gerando apenas riqueza financeira para os mais ricos e reduzindo o investimento produtivo.
Restabelecendo a história: instabilidade e colapso cambial
Analisemos agora o comportamento da taxa de câmbio. Ela afeta ao mesmo tempo a moeda, o crédito e o nível de atividade econômica. E, nas economias periféricas, é uma variável que é capaz de levar um país à bancarrota.
Com o real atrelado ao dólar, a taxa cambial iniciou 1995 em R$ 0,84 o dólar, uma taxa muito valorizada, como já vimos, para deter a hiperinflação.
Mas junto com os preços das importações, também caiu a produção interna e abriu-se um déficit crescente nas contas externas. Essas contradições do Plano Real impediram a manutenção estável do câmbio, que foi sendo desvalorizado continuamente até já ter perdido 43% de seu valor até 1998. Como a taxa inflacionária manteve-se maior que a desvalorização do câmbio, o governo acabou por não conseguir controlar nem o câmbio, nem o déficit externo e nem o fluxo especulativo de dólares atraído pelos juros estratosféricos. E sobreveio a debacle.
Em janeiro de 1999, o Brasil quebrou pela primeira vez na mão de FHC. As reservas em dólares se evaporaram e o real se desvalorizou, com sua taxa chegando até quatro reais por dólar.
Sumiram os dólares, ficamos sem crédito externo para manter as importações, mas as dívidas cresceram. O país só saiu da bancarrota graças a empréstimos do governo americano e outros apoiados pelo FMI. A maxidesvalorização em 1999 acabou por atingir 40%. O governo brasileiro e sua moeda não tinham mais confiança externa. Muito longe já estávamos de qualquer estabilidade monetária e financeira.
Porém, um novo desastre já estava a caminho. A economia estagnada, uma moeda nacional com valor instável, sempre com tendência de queda, e baixo nível de reservas tornaram o Brasil outra vez alvo fácil da especulação cambial. A partir de maio de 2002, sobreveio novo ataque especulativo contra o real. E o Brasil quebrou pela segunda vez na mão de FHC.
De novo, nossa moeda se desvalorizou fortemente, chegando a mais de três reais o dólar. Ficamos mais uma vez sem dólares e sem crédito externo. Outra vez o governo FHC e o Banco Central perderam o controle monetário e cambial. A salvação veio com o FMI: outro financiamento de emergência foi arranjado, muito maior que o de 1999. Mas dessa vez ele veio o junto a exigência de monitoramento trimestral, tendo em vista o descrédito da economia e do governo.
A incrível taxa de juros estratosférica
Por fim temos a variável da taxa de juros. Foi exatamente nos primeiros anos do Plano Real que nossa economia se consolidou como a campeã mundial de taxas de juros reais elevadas e perenes. Passamos a ser a economia bizarramente mais juros-dependente do mundo. Uma rara anomalia que bem longe está de qualquer definição de estabilidade financeira. A parte mais pesada da herança deixada ao Brasil pelas políticas neoliberais de FHC.
A taxa Selic que iniciou 1995 a 60% ao ano, só caiu abaixo de 40% em 1998. E abaixo de 30% ao ano em meados de 1999. Em apenas dois anos os credores da dívida pública federal dobraram seu investimento, e em quatro anos o quintuplicaram. O total da dívida pública líquida se multiplicou durante oito anos, saindo de apenas 37% do PIB, em 1994, para mais 60% em 2002. Nunca um país viu sua dívida pública subir dessa forma em tempos de paz.
A conjunção de elevadas taxa reais de juros, instabilidade econômica e vasta fraude bancária detonou, em 1997, a maior crise bancária do século 20. Neste ano, três dos dez maiores bancos do país quebraram (Banco Nacional, Mercantil de Minas e Bamerindus). O que desencadeou também o maior resgate público de investimentos privados depositados já visto no Brasil.
Uma realidade bem infeliz
O país entregue ao governo Lula, em 2003, foi um país em situação de instabilidade cambial crônica, inflação em alta, sem crédito externo e sem reservas próprias de divisas.
Os números desagradáveis aqui expostos contam uma história bem diferente da inventada “estabilidade monetária e financeira” trazida pelo Plano Real e vivida durante os governos FHC. Esses números são facilmente acessíveis em sites como Ipeadata, Banco Central e IBGE. Não são nem nunca foram secretos. Qualquer um pode obtê-los.
Transformar essa verdade de oito anos de instabilidade monetária, colapsos cambiais e bancarrotas nacionais em uma rósea paisagem de estabilidade parece ir bem mais longe do que uma reinvenção da história, beira mais a simples fraude.
Foto: Antonio Cruz/ABr

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Linchamento é igual à barbárie



Link da matéria- www.jlscomunicacao.com.br

A crise de representatividade das instituições públicas é
apontada como um dos principais fatores para que a população decida fazer
justiça com as próprias mãos. A lacuna deixada pelo Estado leva à sensação de
insegurança e faz com que os cidadãos se sintam responsáveis por restabelecer a
ordem que julgam estar ameaçada. No entanto, a forma com que isso é feito acaba
intensificando o ciclo de violência e descrédito em relação aos órgãos
responsáveis pela proteção da comunidade.





terça-feira, 21 de julho de 2015

O que está por trás do jogo do petróleo no Brasil

Há vários interesses geopolíticos interferindo na crise da Petrobras”, afirma o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, ao lembrar que as petroleiras norte-americanas ficaram de fora da exploração de uma enorme reserva da área do pré-sal onde estão presentes companhias chinesas, associadas à estatal brasileira.
O professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e eventual assessor da presidenta Dilma Rousseff analisa o escândalo em torno da operação Lava Jato a partir de um ângulo geopolítico e econômico, evitando o alarmismo da velha imprensa, que parece interessada em “modificar o regime da partilha e voltar ao de concessão”.
Mar de fundo
“Claro que tudo isto que acontece na Petrobras tem importância geopolítica. Acredito que os Estados Unidos não se conformem em terem ficado de fora da exploração do campo de Libra, vencido por um consórcio de petroleiras chinesas, e todo o mundo sabe que a China quer disputar novos leilões na área do pré-sal, fortalecendo sua presença”.
“A crise da Petrobras tem que ser compreendida em meio a um quadro maior, que é o problema global do petróleo, envolvendo a Rússia e as pressões feitas recentemente contra a Rússia, tentando encurralar o governo de Putin. Me parece difícil que as potências ocidentais consigam fazer a alma russa ceder".
“É absurdo vincular de algum modo a presidenta Dilma com a corrupção. É inaceitável que setores da oposição, setores da sociedade brasileira digam essas coisas que na verdade são conseqüência de não aceitarem que foram derrotados nas eleições. Isso é desconhecer o voto popular, isso é golpismo”.
“Eu não sei se este escândalo é em represália pela participação brasileira nos Brics, o que sei é que a posição do Brasil nos Brics é algo que os Estados Unidos e a Europa olham atentamente. Quando alguém fala com funcionários internacionais, contam as pressões que o Brasil sofreu relacionadas ao banco de fomento e ao acordo do fundo de contingências dos Brics, que é uma espécie de novo FMI (acordos assinados neste ano na cúpula dos Brics de Fortaleza).
Se este fundo já estivesse em funcionamento hoje, talvez pudessem mitigar as pressões cambiais que a Rússia sofre e que estão afetando o Brasil também.
As pressões de certos grupos são fortíssimas para que o Brasil se separe dos Brics e também do Mercosul.
E querem empurrar o Brasil para fazer um acordo com a União Europeia, que eu chamo de ‘volume morto da economia mundial’.
Eu não digo que é preciso se separar dos Estados Unidos e da União Europeia”.
“O peso da Petrobras e das empreiteiras na formação de capital fixo é fundamental no Brasil, então o que eu tenho manifestado é o temor de uma paralisia maior na economia. Existe o risco de que seja introduzido um fator depressivo em uma economia que se está comprometendo o corte de gastos e a austeridade com o novo governo.
É preciso saber discernir entre os eventuais crimes que tenham ocorrido e permitir que as empresas empreiteiras continuem operando porque não é possível substituí-las. Elas têm uma memória técnica muito importante, participaram em todas as grandes obras de infraestrutura desde o regime militar”.
“É preciso evitar um problema sistêmico, se a Petrobras continuar neste impasse, isto vai prejudicar as empresas provedoras da Petrobras, que já estão estranguladas e não estão cobrando”.
Hipocrisia
“Há muita hipocrisia no modo como a mídia trata a crise no Brasil. Fala-se com muito alarmismo da Petrobras e não se diz como agiram os norte-americanos diante da crise do subprime, foi um problema muito maior que o da Petrobras. Alguns bancos receberam multas pesadas, alguns executivos foram sancionados penalmente, foram menos do que aqui, mas ao final, os americanos preservaram as estruturas.
O Congresso introduziu mudanças nas leis financeiras para proteger os bancos e os depósitos. Foi um projeto redigido pelo Citigroup. E, frente a tudo isto, ninguém se escandaliza e ninguém fala de corrupção”.
Abutres
“Quando a justiça dos Estados Unidos intervém na crise da Petrobras diante das demandas dos advogados que patrocinam os acionistas, estamos vendo um procedimento estranho, parecido com o que aconteceu com os fundos abutres e a Argentina.
Claro que há acionistas da Petrobras na Bolsa de Nova York, os ADR são emitidos em Nova York, mas acredito que tudo isto seja um pretexto para poder levar o caso à justiça norte-americana”..
Polícia
“As estruturas encarregadas de “vigiar e punir”, como dizia Foucault, como é a polícia federal, agem sem cuidar das estruturas empresariais fundamentais.
Isso é inevitável no Brasil. Aqui, a Polícia Federal e as polícias estaduais estiveram sempre sintonizadas com certos grupos políticos, com a imprensa e com setores do Poder Judiciário. É assim que o sistema funciona, e os membros da polícia atuam individualmente seguindo esta lógica. Não é pela maldade ou pela vontade deste ou daquele delegado, é o mecanismo existente que faz com que a investigação seja feita sem que se leve em conta as consequências que isso terá para o conjunto da sociedade”.
Globo
“O que se lê na cobertura do Globo é que eles querem transformar o regime de partilha que está em vigor pelo de concessão que se aplicava antes. Mas não se justifica um regime de concessão porque agora não há riscos para os privados porque as reservas já estão descobertas, seus recursos já estão estimados. E tudo isto é para tirar o controle da exploração da Petrobras e passar para as empresas petroleiras estrangeiras. Acredito que também querem trazer as construtoras estrangeiras, em especial as construtoras norte-americanas.
Esses grupos de imprensa sempre atacaram a Petrobras, desde a sua criação (1953).
Toda a imprensa brasileira, salvo o jornal Última Hora, esteve visceralmente contra a Petrobras e atacou a campanha “O Petróleo é Nosso”.
(As palavras de Belluzzo sobre o lobby da Globo a favor das empreiteiras norte-americanas ficaram em evidência em uma coluna de Carlos Alberto Sardenberg, que propôs a formação de um programa similar ao PROER dos anos 90, para socorrer e depurar as empreiteiras e ao mesmo tempo permitir que estas se associem a empresas estrangeiras).
Fonte: Debate

segunda-feira, 20 de julho de 2015

O mito do brasileiro cordial ruiu

Por quem rosna o Brasil

Diante da ruína da autoimagem no espelho, o país parece preferir máscaras autoritárias a enfrentar a brutalidade da sua nudez




O que é o Brasil, agora que não pode contar nem com os clichês? Como uma pessoa, que no território de turbulências que é uma vida vai construindo sentidos e ilusões sobre si mesma, um país também se sustenta a partir de imaginários sobre uma identidade nacional. Por aqui acreditamos por gerações que éramos o país do futebol e do samba, e que os brasileiros eram um povo cordial. Clichês, assim como imaginários, não são verdades, mas construções. Impõem-se como resultado de conflitos, hegemonias e apagamentos. E parece que estes, que por tanto tempo alimentaram essa ideia dos brasileiros sobre si mesmos e sobre o Brasil, desmancharam-se. O Brasil hoje é uma criatura que não se reconhece no espelho de sua imagem simbólica.
Essa pode ser uma das explicações possíveis para compreender o esgarçamento das relações, a expressão sem pudor dos tantos ódios e, em especial, o atalho preferido tanto dos fracos quanto dos oportunistas: o autoritarismo. Esvaziado de ilusões e de formas, aquele que precisa construir um rosto tem medo. Em vez de disputar democraticamente, o que dá trabalho e envolve perdas, prefere o caminho preguiçoso da adesão. E adere àquele que grita, saliva, vocifera, confundindo oportunismo com força, berro com verdade.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), relacionado na delação premiada da Operação Lava Jato aorecebimento de 5 milhões de dólares em propina, brada: “Vou explodir o governo”. Tanto ele quanto o apresentador de programa de TV que brada que tem de botar “menor” na cadeia, quando não no paredão, assim como o pastor que brada que homossexualidade é doença são partes do mesmo fenômeno. São muitos brados, mas nenhum deles retumba a não ser como flatulência.Num momento de esfacelamento da imagem, o que vendem os falsos líderes, estes que, sem autoridade, só podem contar com o autoritarismo? Como os camelôs que aparecem com os guarda-chuvas tão logo cai o primeiro pingo de chuva, eles oferecem, aos gritos, máscaras ordinárias para encobrir o rosto perturbador. Máscaras que não servem a um projeto coletivo, mas ao projeto pessoal, de poder e de enriquecimento, de cada um dos vendilhões. Para quem tem medo, porém, qualquer máscara é melhor do que uma face nua. E hoje, no Brasil, somos todos reis bastante nus, dispostos a linchar o primeiro que nos revelar 
notícia.
Os linchamentos dos corpos nas ruas e o strip-tease das almas na internet desmancharam as últimas ilusões sobre o brasileiro cordial
Ainda demoraremos a saber o quanto nos custou a perda tanto dos clichês quanto dos imaginários, mas não a lamento. Se os clichês nos sustentaram, também nos assombraram com suas simplificações ou mesmo falsificações. A ideia do brasileiro como um povo cordial nunca resistiu à realidade histórica de uma nação fundada na eliminação do outro, os indígenas e depois os negros, lógica que persiste até hoje. Me refiro não ao “homem cordial”, no sentido dado pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) em seu seminal Raízes do Brasil, mas no sentido que adquiriu no senso comum, o do povo afetuoso, informal e hospitaleiro que encantava os visitantes estrangeiros que por aqui aportavam. O Brasil que, diante da desigualdade brutal, supostamente respondia com uma alegria irredutível, ainda que bastasse prestar atenção na letra dos sambas para perceber que a nossa era uma alegria triste. Ou uma tristeza que ria de si mesma.
O futebol continua a falar de nós em profundezas, basta escutar a largura do silêncio das bolas dos alemães estourando na nossa rede nos 7X1 da Copa das Copas, assim como o discurso sem lastro, a não ser na corrupção, dos dirigentes da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Mas, se já não somos o país do futebol, de que futebol somos o país?
Tampouco lamento o fato de que “mulata” finalmente começa a ser reconhecido como um termo racista e não mais como um “produto de exportação”. E lamento menos ainda que a suposta existência de uma “democracia racial” no Brasil só seja defendida ainda por gente sem nenhum senso. Os linchamentos dos corpos nas ruas do país e o strip-tease das almas nas redes sociais desmancharam a derradeira ilusão da imagem que importávamos para nosso espelho. Quanto tudo o mais faltava, ainda restavam os clichês para grudar em nosso rosto. Acabou. Com tanto silicone nos peitos, nem o país da bunda somos mais.
Quando os clichês, depois de tanto girar em falso, tornam-se obsoletos, ainda se pode contar com o consumo de todas as outras mercadorias. Mas, quando o esfacelamento dos imaginários se soma ao esfacelamento das condições materiais da vida, o discurso autoritário e a adesão a ele tornam-se um atalho sedutor. É nisso que muitos apostam neste momento de esquina do Brasil.
É também isso que explica tanto um Eduardo Cunha na Câmara quanto pastores evangélicos que pregam o ódio para milhões de fiéis e apresentadores de TV que estimulam a violência enquanto fingem denunciá-la. Estes personagens paradigmáticos do Brasil atual formam as três faces de uma mesma mediocridade barulhenta e perigosa, que se expressa por bravatas diante das câmeras. Numa crise que é também de identidade, forjam realidades que possam servir ao seu projeto de poder e de enriquecimento para abastecer a manada. Esta, por sua vez, prefere qualquer falsificação ao vazio.
A invenção de inimigos para a população culpar virou um negócio lucrativo num país com a autoimagem fraturada
Para estes personagens tão em evidência, quanto mais medo, melhor. Inventar inimigos para a população culpar tem se mostrado um grande negócio nesse momento do país. Se as pessoas sentem-se acuadas por uma violência de causas complexas, por que não dar a elas um culpado fácil de odiar, como “menores” violentos, os pretos e pobres de sempre, e, assim, abrir espaço para a construção de presídios ou unidades de internação? Se os “empreendimentos” comprovadamente não representam redução de criminalidade, certamente rendem muito dinheiro para aqueles que vão construí-los e também para aqueles que vão fazer a engrenagem se mover para lugar nenhum. Depois, o passo seguinte pode ser aumentar a pressão sobre o debate da privatização do sistema prisional, que para ser lucrativo precisa do crescimento do número já apavorante de encarcerados.
Se há tantos que se sentem humilhados e diminuídos por uma vida de gado, porque não convencê-los de que são melhores que os outros pelo menos em algum quesito? Que tal dizer a eles que são superiores porque têm a família “certa”, aquela “formada por um homem e por uma mulher”? E então dar a esses fiéis seguidores pelo menos um motivo para pagar o dízimo alegremente, distraídos por um instante da degradação do seu cotidiano? Fabricar “cidadãos de bem” numa tábua de discriminações e preconceitos tem se mostrado uma fórmula de sucesso no mercado da fé.
A invenção de inimigos dá lucro e mantém tudo como está, porque, para os profetas do ódio, o Brasil está ótimo e rendendo dinheiro como nunca. Ou que emprego teriam estes apresentadores, se não tiverem mais corpos mortos para ofertar no altar da TV? Ou que lucro teria um certo tipo de “religioso” que criou seu próprio mandamento – “odeie o próximo para enriquecer o pastor”? Ou que voto teria um deputado da estirpe de Eduardo Cunha se os eleitores exigissem um projeto de fato, para o país e não para os seus pares? Para estes, que estimulam o ódio e comercializam o medo, o Brasil nunca esteve tão bem. E é preciso que continue exatamente assim.
A ilusão mais sedutora do governo Lula era a de criar um Brasil igualitário sem mexer nos privilégios dos mais ricos
Se o governo Lula, na história recente do país, fundou-se sobre um pacto de conciliações, para compreendê-lo é necessário também decodificá-lo como um conciliador de imaginários. Lula, o líder carismático, foi muito eficiente ao ser ao mesmo tempo o novo – “o operário que chegou ao poder” num país historicamente governado pelas elites – e o velho –, o governante “que cuida do povo como um pai”. A centralização na imagem do líder esvazia de força e de significados o coletivo. Do mesmo modo, a relação entre pais e filhos alçada à política atrasa a formação do cidadão autônomo, que fiscaliza o governo e concede ao governante, pelo voto, um poder temporário.
Mas a ideia mais sedutora do governo Lula, em especial no segundo mandato, era a possibilidade de incluir no mundo do consumo milhões de brasileiros e reduzir a miséria de outros milhões sem tocar no privilégio dos mais ricos. Este era um encantamento poderoso, que funcionou enquanto o Brasil cresceu, mas que, qualquer que fosse o desempenho da economia, só poderia funcionar por um tempo limitado num país com acertos históricos para fazer e uma desigualdade abissal. Enquanto o encanto não se quebrou, muitos acreditaram que o eterno país do futuro finalmente tinha chegado ao futuro. O Brasil, que valoriza tanto o olhar estrangeiro (do estrangeiro dos países ricos, bem entendido), leu-se como notícia boa lá fora. A Copa do Mundo aqui foi sonhada para ser a apoteose-síntese deste Brasil: enfim, o encontro entre identidade e destino.
Não foi. E não foi muito antes dos 7X1. Essa frágil construção simbólica, que desempenhou um papel muito maior do que pode parecer na autoimagem do Brasil e nas relações cotidianas da população na história recente, exibiu vários sinais de que se quebrava aqui e ali, vazando por muitos lados. Sua ruína se tornou explícita nas manifestações de junho de 2013, protestos identificados com a rebelião e com a esquerda, apesar da multiplicidade contraditória das bandeiras. Quem acha que 2013 foi apenas um soluço, não entendeu o impacto profundo sobre o país. A partir dali todos os imaginários sobre o Brasil perderam a validade. Assim como os clichês. E a imagem no espelho se revelou demasiado nua. E bastante crua.
O Brasil do futuro não chegará ao presente sem fazer seu acerto com o passado
O Brasil do futuro não chegará ao presente sem fazer seu acerto com o passado. Entre tantas realidades simultâneas, este é o país que lincha pessoas; que maltrata imigrantes africanos, haitianos e bolivianos; que assassina parte da juventude negra sem que a maioria se importe; que massacra povos indígenas para liberar suas terras, preferindo mantê-los como gravuras num livro de história a conviver com eles; em que as pessoas rosnam umas para as outras nas ruas, nos balcões das padarias, nas repartições públicas; em que os discursos de ódio se impõem nas redes sociais sobre todos os outros; em que proclamar a própria ignorância é motivo de orgulho na internet; em que a ausência de “catástrofes naturais”, sempre vista como uma espécie de “bênção divina” para um povo eleito, já deixou de ser um fato há muito; em que as paisagens “paradisíacas” são borradas pelo inferno da contaminação ambiental e a Amazônia, “pulmão do mundo”, vai virando soja, gado e favela – quando não hidrelétricas como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio.
Este é também o país em que aqueles que bradam contra a corrupção dos escalões mais altos cometem cotidianamente seus pequenos atos de corrupção sempre que têm oportunidade. A ideia de que o Congresso democraticamente eleito, formado por um número considerável de oportunistas e corruptos, não corresponde ao conjunto da população brasileira é talvez a maior de todas as ilusões. É duro admitir, mas Eduardo Cunha é nosso.
Neste Brasil, a presidente Dilma Rousseff (PT), acuada por ameaças de impeachment mesmo quando (ainda) não há elementos para isso, é um personagem trágico. Vendida por Lula e pelos marqueteiros na primeira eleição, a de 2010, como “mãe dos pobres”, ela nunca foi capaz de vestir com desenvoltura esse figurino populista, até por sinceridade. Quando tenta invocar simbologias em seus discursos, torna-se motivo de piada. O slogan de seu segundo mandato –“Brasil, Pátria Educadora” – não encontra nenhum lastro na realidade, virando mais uma denúncia do colapso da educação pública do que o movimento para recuperá-la. Parece que os marqueteiros tampouco entendem o Brasil deste momento e seguem acreditando que basta criar imagens para que elas se tornem imaginários. O próprio Lula parece ter perdido sua famosa intuição sobre o Brasil e sobre os brasileiros. Em suas manifestações, Lula soa perdido, intérprete confuso de um Brasil que já não existe.
Os protagonistas das manifestações de 2015 gritam também para manter seus privilégios
Agora que já não contamos com os velhos clichês e imaginários, a crueza de nossa imagem no espelho nos assusta. Diante dela e de uma presidente com a autoridade corroída, cresce a sedução dos autoritarismos. Nada mais fácil do que culpar o outro quando não gostamos do que vemos em nós. Em vez de encarar o próprio rosto, cobre-se a imagem perturbadora com alvos a serem destruídos. Aqueles que encontram nesta adesão aos discursos autoritários uma possibilidade de ascensão, esquecem-se da lição mais básica, a de que não há controle quando se aposta no pior. Só há chance se enfrentarmos conflitos e contradições com a cara que temos. É com esses Brasis que precisamos nos haver. É essa imagem múltipla que temos de encarar no espelho se quisermos construir uma outra, menos brutal.
O que o governo Lula adiou, ao escolher a conciliação em vez da ruptura com os setores conservadores, está na mesa. Há várias forças se movendo para encontrar uma nova acomodação, que evite o enfrentamento das contradições e das desigualdades. É pelas bandeiras da reacomodação que as ruas foram ocupadas em 2015 pelo que alguns têm chamado de “nova direita”. Esta, se adere à novidade da organização pelas redes sociais e aparentemente se coloca fora dos esquemas tradicionais da política e dos partidos, talvez seja menos “nova” do que possa parecer nas questões de fundo.
A próxima manifestação, marcada para 16 de agosto, é acompanhada com atenção pelos políticos e partidos tradicionais que conspiram pelo impeachment da presidente eleita. Os manifestantes de 2015 gritam contra a corrupção, mas basta escutá-los com atenção para compreender que gritam para deixar tudo como está. E, se possível, voltar inclusive atrás, já que uma parte significativa parece ter se sentido lesada por políticas como a das cotas raciais e outros tímidos avanços na direção da reparação e da equidade. A redução da maioridade penal, assim como outros projetos conservadores em curso, são também exemplos de uma resposta autoritária – e inócua – para o esgarçamento crescente das relações sociais e para a violência.
Há muito barulho sendo produzido hoje, como o próprio discurso de Eduardo Cunha em cadeia nacional (17/7), para desviar o foco do grande nó a ser desatado: não haverá justiça social e igualdade no Brasil sem tocar nos privilégios. Muita gente bacana ainda segue acreditando no conto de fadas de que é possível alcançar a paz sem perder nada. Não é. Quem quiser de fato reduzir a violência e a corrupção que atravessa o Brasil e os brasileiros, vai ter de pensar sobre o quanto está disposto a perder para estar com o outro. É este o ponto de interrogação no espelho. É por isso que o som ameaçador dos dentes sendo afiados cresce. E cresce também onde menos se espera.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficçãoColuna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Site:desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter:@brumelianebrum
Fontes: El País