quinta-feira, 20 de março de 2014

Livre pensar

Esse facebook está cada vez mais estranho

O que eu acho estranho no facebook é que eles criam uma série de normas de postagem, mas permitem a pregação golpista, a pregação contra a democracia. Você vai olhar no manualzinho de procedimentos deles e diz lá que não será tolerada violência ou expresões de qualquer espécie contra raça, religião etc. Mas contra a democracia, a violência vale. Será que eles acham que isso é liberdade de expressão? Abrir espaço para as pessoas pedirem o fechamento desses espaços? Enquanto esse lero-lero de desinformados ficar só nas redes sociais, fico tranquilo. Se chegar na mídia tradicional, que é conservadora e até este momento defende a nossa democracia com todos os seus problemas, vou atualizar meu passaporte.

O comunismo está de volta, dizem terroristas ( de direita ) da rede social






Nunca vi tanto papo de comunismo como em alguns posts da rede social. Tudo com base e pavor do noticiário sobre as pesquisas eleitorais e as informações diárias sobre corrupção - praga "inventada" no Brasil" pelos governos Lula e Dilma ????, além das cagadas que o governo do PT vem fazendo na sua arte de governar. O interessante é que o regime comunista está no pulmão de aço para respirar ( só existe em três ou quatro países do mundo e ninguém quer saber ou falar deles, só os saudosistas brasileiros dos governos de força ). Em 1989, com a queda do Muro de Berlim, aqueleesonho acabou. Mas esse sonho realmente ambalou toda uma geração e não tem nada de errado nisso. Eles fizeram história, sofreram com a história e hoje, no Brasil, curtem essa história. Mas pelo voto. 
E quem somos nós para dizer que está tudo errado e não pode ser assim? Seria muita pretensão da nossa parte. Democracia é isso. Tem cagadas e todo mundo sabe. O pior é quando as cagadas acontecem e ninguém fica sabendo. Para isso, nada melhor do que uma ditadura. Mas quem tiver saco, é só pesquisar a corrupção - palavra mágica nos dias de hoje - nos tempos da ditadura. Só que esse discurso moralista ( olha a UDN de volta ! ) tem que ter uma resposta nas instituições. Que se cobre do Poder Judiciário trabalho e julgamentos. Que as prisões tenham colarinhos brancos e políticos como começou agora com o mensalão. 
E Cuba? Cuba está lá fazendo das tripas coração para sobreviver. É o socialismo da pobreza. Mas, apesar de tudo, lá também a maioria adora a ditadura. Fidel é endeusado. Vi com os meus próprios olhos. Paciência , eles têm a caminhada deles. Têm escola, saúde e emprego pra todo mundo. Mas já começam a pedir a liberdade. Aqui a gente não tem nada disso e já quer de volta uma ditadura. Tenha paciência!. Os empresários brasileiros estão adorando os investimentos e financiamentos do BNDES. É só dar uma passadinha na Firjan e na Fiesp e pergunta o que eles acham. Sabe porque? Porque são as empresas brasileiras que estão fazendo as obras por lá e quando o porto ficar pronto, as empresas brasileiras aumentam suas exportações para lá. Isso se chama geopolítica. E no tabuleiro mundial só sobra alguma coisa da América Latina e da África para o Brasil.  
A história da Dilma, Dirceu e Genoíno é uma história sofrida. Lutaram contra a ditadura e comeram o pão que o diabo amassou. Tenho certeza que se não aprenderam nada com a resistência militar à ditadura e se têm um projeto de poder totalitário, vão ficar sozinhos no estribo do bonde. Se certas forças políticas não querem o PT por mais quatro anos no poder , que conscientizem e mostrem outros planos de governo melhores e alternativos.. Fora daí, é golpe. Ganhar no grito, não dá e na força, tem prazo de validade no tempo histórico.

terça-feira, 18 de março de 2014

A maior "pegadinha" do Brasil foi em 1964

Leiam o depoimento de Frei Beto publicado no Brasil de Fato

Meu 1º de Abril de 1964


Na noite do 1º de abril, vi na TV o arcebispo dar loas à Virgem de    Nazaré por livrar o Brasil do comunismo, e sugerir que entre seu clero havia quem sofresse influência marxista... Dom Milton aconselhou-me buscar refúgio fora dali.
18/03/2014
Frei Betto
Na data do golpe militar, eu participava em Belém (PA) do congresso latino-americano de estudantes. Nunca havia vivido um golpe e, muito menos, uma ditadura. Meu pai, no entanto, sofrera sob o Estado Novo de Vargas, padecera prisão, e se vira obrigado a deixar o Rio e retornar a Minas ao assinar o Manifesto dos Mineiros.
Na capital paraense as notícias chegavam confusas e difusas. Pelas ruas, viaturas militares. Lideranças estudantis de outros países do Continente, já acostumadas a quarteladas, preferiram dissolver o congresso. Foi o salve-se quem puder...
Como membro da direção nacional da Ação Católica, eu estava hospedado na residência do arcebispo Dom Alberto Ramos, a convite de seu bispo auxiliar, Dom Milton Pereira. Este era progressista; o outro, conservador.
Na noite do 1º de abril, vi na TV o arcebispo dar loas à Virgem de    Nazaré por livrar o Brasil do comunismo, e sugerir que entre seu clero havia quem sofresse influência marxista... Dom Milton aconselhou-me buscar refúgio fora dali.
Fui para a casa de Lauro Cordeiro, militante da JEC (Juventude Estudantil Católica). Ali, de ouvidos colados ao rádio, tentávamos avaliar o que ocorria no Sudeste do país. Jango fora deposto e buscara exílio no Uruguai. Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumira a presidência da República sob tutela dos militares. Estes impunham novas eleições presidenciais a 11 de abril, pelo voto apenas de membros do Congresso Nacional que ainda não haviam sido cassados.
Mas... cadê a resistência de toda aquela multidão que aplaudira Jango no megacomício de 13 de março, no Rio? E a militância do Partidão, onde se enfiara? A esquerda não bradava ser capaz de mobilizar milhares de trabalhadores em caso de ameaça de golpe? Por que as tropas comandadas pelo general Olímpio Mourão Filho viera de Minas ao Rio sem se deparar com nenhum empecilho?
Nossos sonhos libertários se derretiam como os saborosos sorvetes da Tip Top, a mais famosa sorveteria da capital paraense. Após nove dias esperando a poeira baixar, decidi retornar ao Rio, onde morava.
Minha passagem aérea tinha sido cedida por Betinho, então chefe de gabinete do ministro da Educação, Paulo de Tarso dos Santos. Deparei-me com a agência da Varig repleta de pessoas afoitas por viajarem. Ao ser atendido, fui informado de que “estão canceladas todas as passagens de cortesia emitidas pelo governo anterior”. Sem dinheiro, me senti desamparado.
Na capa da passagem (outrora os bilhetes aéreos vinham encadernados) havia o carimbo de “Cancelado”. Rasguei a capa e estendi-a ao funcionário que avisava não ter mais assento vago em voos diretos para o Rio, a menos que o passageiro fizesse escala no Recife. Consegui embarcar.
Cheguei à capital pernambucana a 10 de abril, dia da posse de Dom Helder Camara como arcebispo de Olinda e Recife. Ele havia sido o responsável pela minha transferência de Minas para o Rio e cuidava da manutenção do apartamento das direções da JEC e da JUC (Juventude Universitária Católica).
Talvez por captar minha aflição, Dom Helder, após a missa de posse, deixou a recepção por alguns minutos para ouvir o relato do que eu presenciara em Belém. Em seguida, embarquei para o Rio, tomando assento ao lado de Dom Cândido Padin, bispo auxiliar do Rio e assessor nacional da Ação Católica.
Ao aterrissar no aeroporto Santos Dumont, o piloto avisou que todos deveriam permanecer a bordo, pois a Polícia Federal entraria para conferir a identidade de cada passageiro. Passei a Dom Padin todos os documentos do congresso de estudantes, temendo que fossem considerados subversivos. Ele os escondeu dentro do hábito beneditino.
Ao ingressar na aeronave, os policiais avistaram a figura episcopal: “O bispo pode desembarcar”, disseram. Todos os demais fomos identificados e revistados. Desembarquei ileso.
Na madrugada de 5 para 6 de junho de 1964, o apartamento da direção da Ação Católica foi invadido por agentes do CENIMAR (Centro de Informações da Marinha). Fomos todos arrastados para o Comando Naval, no centro do Rio, e depois encarcerados no quartel dos fuzileiros navais, na Ilha das Cobras.
A ditadura me atingira na pele, pela primeira vez, para mais tarde me prender por quatro anos (1969-1973) e cassar por dez meus direitos políticos.
Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros.

domingo, 16 de março de 2014

Quem tem medo de mulher pelada?

Por Redação dezembro 17, 2013 15:44 Updated ( fonte: Portal Forum )

Quem tem medo de mulher pelada?
Rico em trama e criações estéticas, filme de Abdellatif  Kechiche é atacado por suposto estímulo ao voyerismo. Alegação é tola

Por José Geraldo Couto, do blog do IMS, via Outras Palavras

Assim como O último tango em Paris ficou famoso – e estigmatizado – por causa da “cena da manteiga”, Azul é a cor mais quente está ganhando fama e estigma por causa de uma longa cena de sexo entre as duas protagonistas, Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux). Falaremos dessa passagem mais adiante. Por enquanto, cabe dizer que o filme de Abdellatif  Kechiche é muito maior do que os tão falados minutos de sexo sáfico, mas não pode ser compreendido plenamente sem eles.
Reduzido ao entrecho mais básico, Azul é a cor mais quente conta uma história de amor quase trivial, do tipo “boy meets girl etc.”, só que mudada para “girl meets girl etc.”, o que faz toda a diferença. Mas não é só essa mudança de gênero, ou de orientação sexual, que torna o filme mais rico e interessante que um drama amoroso convencional. É, principalmente, o modo como ele observa os personagens e suas transformações – em particular Adèle, que começa a narrativa como uma menina e termina como uma mulher.
Romance de formação
Esse processo de transformação se dá em paralelo – ou amalgamado – com a busca de identidade da protagonista. Identidade sexual, claro (pois ela encontra o primeiro grande amor numa mulher alguns anos mais velha, e muito mais vivida, depois de um experimento insatisfatório com um rapaz), mas também social, intelectual, político. Nesse sentido, é mais um “romance de formação”, ou uma “educação sentimental”, do que meramente uma história de amor.
O título original francês (La vie d’Adèle) é uma referência evidente ao livro que a protagonista lê na escola no início do filme (La vie de Marianne, de Pierre de Marivaux). E não deixa de ser interessante o paralelo subterrâneo que se estabelece entre a ascendência intelectual de Emma sobre Adèle e a ascendência intelectual desta sobre seu namoradinho de adolescência.
(Divulgação)
O bonito, no modo como Kechiche perscruta o desenvolvimento de Adèle, é deixar que ela mantenha suas zonas de sombra, sua opacidade irredutível. Apesar de ela estar em cena durante as três horas de filme, saímos da sessão não apenas com a impressão de não conhecê-la plenamente, mas também com a sensação de que ela própria não se conhece. Parece estar o tempo todo procurando sua turma, sem chegar a encontrá-la de verdade – e vai se construindo nesse processo de busca. Nos momentos em que Adèle se sente plena (como no parque, no primeiro encontro com Emma), uma luz estourada inunda tudo, ofuscando os contornos da personagem.
Igualmente notável é o frescor com que entra na tela o entorno da protagonista, quase à maneira de um documentário: a sala de aula, as boates GLS, a passeata política, a parada gay, os jantares em família, a escola maternal, a festa de artistas, tudo flui, tudo respira com uma naturalidade impressionante.
Sem cerimônia
Voltamos então às comentadas cenas de sexo entre Adèle e Emma. Militantes feministas e ativistas lésbicas protestaram, acusando o diretor de explorar os corpos das atrizes, oferecendo-os ao voyeurismo (supostamente masculino). Confesso que não entendo. Numa encenação em que tudo é filmado de muito perto e sem cerimônia – a ponto de os corpos dos atores quase sempre serem vistos parcialmente –, o que há de errado em mostrar as duas protagonistas se amando apaixonadamente na cama?
Em outros momentos Adèle aparece: limpando a boca com a mão ao comer um lanche; dormindo de boca aberta; chorando como uma criança, com catarro escorrendo do nariz; erguendo as calças pela cintura, feito uma menina caipira. Por que não poderia aparecer fazendo sexo com a mulher que ama? Omitir isso seria o cúmulo da hipocrisia. Edulcorar a cena com contraluzes, fusões, câmera lenta e música romântica seria, além de hipócrita, de péssimo gosto.
O incômodo causado pelas cenas de sexo de Azul é a cor mais quente, em particular pela mais longa, é análogo às reações suscitadas pela trepada quase explícita entre dois homens que está no centro de Tatuagem, de Hilton Lacerda. Nos dois casos, muita gente disse: “Isso não era necessário”. Ora, o que é “necessário” num filme?
Há algo errado num mundo que considera natural ver na tela corpos perfurados, mutilados, torturados, mas julga “desnecessária” uma cena de amor homoerótico.
Truffaut costumava dizer, talvez não totalmente de brincadeira, que o papel do diretor de cinema é “mostrar uma mulher bonita fazendo coisas bonitas”. Pois bem: Kechiche mostrou logo duas, fazendo a coisa mais linda que elas poderiam fazer. Quem não quiser ver, que mude de canal, ou melhor, de sala.