Costuma-se dizer que o
Brasil não é um país para amadores. Mas o fato é que eles abundam em
terras tupiniquins. E mesmo no universo da política, onde o mais bobo
consegue consertar relógio suíço num quarto escuro e com luva de box,
cada dia surgem novos nomes invocando-se líderes de um pedaço da
população e falando em nome dela.
Os recrutas de turno atendem pelas
alcunhas Lobão, Roger, Danilo Gentile, Reinaldo Azevedo, Luciano Hulck,
Ronaldo Fenômeno e figuras que conseguem ser ainda mais caricatas como
um tal de Olavo de Carvalho, que se apresenta como filósofo, e Rodrigo
Constatino, que nem se apresenta porque não sabe terminar uma frase. Eles se tornaram os ídolos dos verdadeiramente desinformados. Aqueles
que leem Veja, gostam de piadas racistas e fascistas e que reproduzem
chorume pelas plataformas de rede sociais.
Os novos heróis do Brasil que clama por intervenção militar nada mais
são do que a tentativa de reproduzir um movimento que levou (pasmem!) o
Partido Republicano a perder não só eleições, mas o eixo. Nos EUA, esse
movimento ultra-direitista conhecido como Tea Party tem como centro de
seu discurso a redução dos impostos, mas para dar molho à sua tese
também defende o criacionismo, porque Deus é o pai de todos, e a guerra,
porque ela geraria empregos. Para a turba que de vez em quando sai às
ruas americanas para protestar, Obama é o principal alvo por ser um
comunista radical. Isso mesmo, você não leu errado. Não é a toa que eles
acham o PT um partido de extrema esquerda.
Como nos EUA
o nome do movimento é denominado de Tea Party e nossa terra não é
exatamente caracterizada pela ingestão de chá, vou batizar o movimento
liderado de Lobão de Banana’s Party (pode usar a vontade Lobão, não vou
cobrar direitos autorais pela ideia). Banana’s Party tem muito mais a
ver com o estilo dos manifestantes daqui. São uns covardes que não
aceitam o resultado das urnas e querem uma intervenção militar.
Nos EUA esse movimento de direita emburrecida é centrado na luta
contra os impostos. Mas aqui no Brasil como provavelmente boa parte da
tropa é sonegadora, o que os une é o grito contra a corrupção e o PT.
Para eles, o PT e sua estrela vermelha criaram a luta de classes. Sem o
PT, garantem, os pobres não iriam querer deixar de ser pobres e os
negros iriam continuar no seu cantinho.
Não há nada que incomode mais essa gente do que as palavras cotas e
Bolsa Família. Se quiser fazê-los cair no chão e estribuchar use-as como
se fosse alho contra vampiros. Elas são infalíveis.
O valor do Bolsa Família eles gastam numa taça de champanhe, mas
consideram que ao garantir essa renda mínima para os mais pobres o
governo petista transformou o Brasil num país de vagabundos.
É o Bolsa Família que os impede de continuar pagando os 200 reais de
salário mínimo da época do FHC para suas empregadas domésticas e por
isso eles não perdoam nem o Lula e nem a Dilma.
Quanto as cotas, aí o buraco é ainda mais embaixo. Elas são até mais
assustadoras para a turma do Banana’s Party porque estão misturando seus
filhos com os filhos dos pedreiros. Onde já se viu um garoto negro
estudar na mesma faculdade da minha filha que foi criada como uma
Barbie? E pior ainda, imagina minha filhinha que estudou em escola
americana não entrar numa faculdade na qual o filho do pedreiro que
estudou num colégio público entrou. Aí já é vandalismo. E por isso eles
vão para a rua gritar contra o PT. E por isso eles apoiram
fervorosamente a candidatura de Aécio Neves.
Mas como Aécio Neves perdeu, eles decidiram que cansaram de brincar
com esse negócio chamado democracia. E que eleição é coisa de pobre e
não tem a menor graça. A turma do Banana’s Party quer intervenção
militar. Querem um governo que prenda e arrebente quem defender direitos
humanos, direitos sociais, direitos de gênero etc. O pessoal do
Banana’s quer no mínimo Lula e Dilma na cadeia. Mas preferem vê-los
sendo eliminados por um batalhão de fuzileiros em praça pública.
O Tea Party americano quando sai às ruas é um pouco mais engraçado do
que o Banana’s Party. A galera sai fantasiada. No Brasil, os Bananas
apenas carregam cartazes com suas palavras de ordem facistas.
Mas você pode estar se perguntando. Você está assustado com o
Banana´s Party, Rovai? Você acha que eles podem conseguir o impeachment
de Dilma? Você acha que eles podem fazer os milicos de pijama (ou
bananas?) saírem dos seus clubes militares e marcharem em direção ao
Congresso?
Claro que não. Até porque o nome do movimento que alcunhei para que
eles não fiquem por aí perambulando sem nome já denuncia o que essa
turma é. E mais do que isso, qualquer coisa que for liderada por pessoas
do nível do Lobão tende a ser no máximo uma piada.
A questão é outra. Creiam, estou preocupado com o PSDB. O partido
fundado por pessoas como Mário Covas está se deixando sequestrar pelo
mais tacanho conservadorismo e parece não se incomodar mais em ser
associado a movimentos que clamam por intervenção militar. Isso é o mais
assustador dessa história. Com todas as suas idiossincracias, sempre
considerei os tucanos como um partido de liberais democratas. Agora, até
isso já é algo a se duvidar.
Ou o partido reage e isola o Banana´s Party, deixando que as ovelhas
do Lobão se organizem em torno de um Feliciano ou Bolsonaro ou o PSDB
vai ser sequestrado por recrutas que juntam 500 pessoas na frente do
Masp, mas que vão levá-lo a um fim desastroso.
O povo, amigos, é muito mais inteligente do que parece. E, entre
outras coisas, o que ele rejeitou nas urnas em 26 de outubro foi o ódio.
O ódio que escapa por todos os poros da turma do Banana´s Party. O ódio
que move Bolsonaros e Felicianos. O ódio que pode fazer bem a extrema
direita como projeto político, mas que não era a pedra de toque do PSDB.
Só há uma forma de o PSDB continuar a existir. É dizer claramente à
sociedade que rejeita o Banana´s Party. E que condena veementemente suas
posições. Ou é isso ou não há mais como não entender o partido como o
centro das articulações de um movimento golpista.
Por Renato Rovai
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